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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Blavatsky e a Sociedade Teosófica

por Gilberto Schroeder

Helena Petrovna Blavatsky foi uma das figuras mais importantes do mundo místico do século 19, trazendo para o Ocidente uma série de pensamentos que modificaram o desenvolvimento do espiritualismo no século 20, e que continuam fazendo história.

"Helena Petrovna Blavatsky foi uma das figuras mais importantes do mundo místico do século 19, trazendo para o Ocidente uma série de pensamentos que modificaram o desenvolvimento do espiritualismo no século 20, e que continuam fazendo história.

Ainda que as idéias de reencarnação, carma e da existência de civilizações extremamente desenvolvidas no passado da humanidade ainda causem discussões entre cientistas e pesquisadores menos ortodoxos, não há dúvida de que essas noções já se encontram de tal forma difundidas nas culturas do planeta, que já não assustam ou causam tanto espanto.

Hoje em dia é comum ler artigos ou ouvir pessoas falando sobre a Lemúria e outras civilizações que teriam existido há milhares ou mesmo milhões de anos, e a noção da reencarnação já está até mesmo sendo, aos poucos, incorporada à psicologia, com a terapia de vidas passadas e outros procedimentos semelhantes.

As coisas eram um pouco diferentes na época em que Helena Petrovna Blavatsky fundou a Sociedade Teosófica e começou a tornar essas noções mais conhecidas e populares no mundo ocidental.

A segunda metade do século 19 foi marcada, no chamado mundo espiritualista, por momentos importantes, que tiveram repercussão em praticamente todas as atividades e estudos espirituais do século seguinte.

A começar com as comunicações estabelecidas pelas irmãs Fox, em 1848, a idéia de se comunicar com os espíritos se espalhou rapidamente pelo mundo, especialmente na Europa; a partir de 1856, começavam a ser publicados os livros de Allan Kardec, com O Livro dos Espíritos. E, em 1875, era fundada a Sociedade Teosófica, por Helena Petrovna Blavatsky, Henry S. Olcott e William Q. Judge.

Uma espécie de contraponto a essas atividades foi o desenvolvimento científico ocorrido na mesma época. Em 1859, era publicado o livro A Origem das Espécies, de Charles Darwin, que provocaria uma verdadeira revolução na biologia do século seguinte, ainda que a controvérsia a respeito da teoria se estendesse ao início do século 20 e, de certa forma, prossiga até hoje.

Em 1869, a Sociedade Dialética de Londres iniciava seus trabalhos de pesquisa sobre os fenômenos psíquicos e, em 1870, o famoso cientista William Crookes também iniciava seus experimentos no mesmo campo. Em 1882, essas pesquisas atingiriam um nível ainda mais profundo com a criação da Sociedade para Pesquisas Psíquicas.

No entanto, o aparente choque entre as posturas científica e espiritual não impediu que a Sociedade Teosófica - a exemplo do espiritismo e outros ramos de pesquisa ligados à espiritualidade - se estabelecesse como uma influência fundamental nos estudos que se desenvolveriam no século 20. Assim, não é exagero dizer que a Sociedade Teosófica também é uma das bases da chamada Nova Era e das novas posturas espirituais.

Além disso, também pode ser considerada como o ponto de partida para as pesquisas da chamada "história alternativa da Terra", que teve expoentes como Charles Fort, com o seu O Livro dos Danados (1919), e mais recentemente com Robert Charroux, Erich von Daniken, Charles Berlitz e tantos outros autores.

Unidade Essencial

Para alguns estudiosos, as noções divulgadas por Blavatsky tiveram um peso ainda maior do que as do espiritismo na propagação e popularização das idéias de reencarnação e de carma, até então praticamente desconhecidas no Ocidente, apesar de serem conhecidas tanto na filosofia platônica quanto no judaísmo e nos primórdios do cristianismo.

Em A Chave para a Teosofia, Blavatsky diz que todos os homens têm, física e espiritualmente, a mesma origem, e esse é o ensinamento fundamental da Sociedade Teosófica. Seu objetivo principal é demonstrar que a unidade essencial de toda a vida é um fato da natureza, formando o núcleo de uma fraternidade universal.

Além disso, como a humanidade é de uma única e mesma essência - infinita, não-criada e eterna, quer seja chamada de Deus ou Natureza - nada pode afetar uma nação ou um homem sem que afete igualmente todas as demais nações e homens. Assim, a Sociedade encoraja o estudo de religiões, ciências e filosofias, ancestrais e modernas, para ajudar a promover um melhor entendimento entre as pessoas e o reconhecimento dessa unidade de vida.

Se as diferentes religiões e filosofias forem estudadas e comparadas sem preconceitos e sem paixão, a humanidade poderá chegar à Verdade, especialmente se conseguir encontrar os vários pontos em comum entre essas religiões e pensamentos. Também faz parte dos objetivos da Sociedade o incentivo à investigação e à partilha dessas verdades naturais, que são as leis e forças espirituais, psicológicas e materiais, encontradas no cosmo e nos seres humanos.

Como cada pessoa é uma parte do todo, ela também contém, de forma latente ou expressa, todas as qualidades e atributos do cosmo, de modo que uma das maneiras de se entender o universo e tudo o que ele contém é compreendendo a si mesmo da forma mais profunda e completa.

Em suas recomendações, a Sociedade também apresenta uma advertência contra a busca deliberada de poderes psíquicos. Ainda que os seres humanos devam procurar entendê-los, como parte de sua natureza, essa procura pode distrair a pessoa dos objetivos mais profundos para o crescimento humano, levando ao desequilíbrio no desenvolvimento da consciência.

Viagens

Nascida na Rússia em 12 de agosto de 1831, Helena Petrovna von Hahn deu início a mais de vinte anos de viagens por todo o mundo logo após seu casamento com Nikifor P. Blavatsky, em 1849, de quem tomou o sobrenome com que ficou conhecida. Essas viagens foram fundamentais para seu contato com as mais variadas tradições místicas, ainda que seus biógrafos ressaltem o fato de que, desde cedo, ela já estava acostumada a conhecer diferentes culturas: seu pai, Peter von Hahn, era capitão e, como tal, freqüentemente transferido de uma cidade para outra.

Já na infância, manifestava interesse pelas lendas, além de ter contato com a literatura por intermédio da mãe, Helena Andreyevna Hahn - uma escritora bastante conhecida na época - e da imensa biblioteca dos avós maternos, a princesa Helena Dolgorujova e o governador Andrey de Fadeyev. Nessa biblioteca, havia centenas de livros sobre filosofia e esoterismo.

Após a morte da mãe, quando Blavatsky tinha apenas onze anos, ela foi criada pela avó, de modo que teve ainda mais acesso aos livros e começou a desenvolver um contato com o chamado "mundo metafísico", que ia além do que ela havia aprendido nas leituras.

Ela também dizia que sentia uma presença que iria guiá-la, mantendo-a segura, presença que posteriormente reconheceu como sendo o seu mestre, com o qual estabeleceu uma conexão que se tornou fundamental em sua vida.

O casamento foi forçado, e Helena não permitiu que ele se consumasse, conseguindo fugir do marido, da avó e do pai, iniciando sua jornada pelo mundo por conta própria, à procura de quem pudesse lhe dar o conhecimento e sabedoria que tanto desejava. Encontrou ocultistas em Atenas e Cairo, viveu entre os dervixes, os drusos (membros de uma seita secreta da Síria e Líbano), beduínos e sufis.


Apenas em 1851, na Inglaterra, ela disse ter encontrado a quem chamou de "mestre dos meus sonhos", que posteriormente ela revelaria ser o mestre indiano que a acompanhava desde a infância. Ele lhe disse que a Sociedade Teosófica estava para ser formada, e que desejava que ela fosse a fundadora.

Encontro com o Mestre

As viagens e estudos posteriores incluíram contatos com os indígenas norte-americanos, o vudu, antigas civilizações amazônicas e as religiões da Índia. Ela tentou chegar ao Tibete através do Nepal, querendo encontrar seu mestre em seu retiro em Tashilhunpo, mas a entrada só lhe foi permitida em 1856, e sua vivência no país foi relatada no livro Ísis Sem Véu.

Blavatsky retomou à Rússia em 1858, causando espanto devido às manifestações que provocava, ainda que afirmasse não ser uma médium, mas apenas "uma mediadora entre os mortais e seres dos quais nada conhecemos". De todo modo, uma série de fenômenos parecia ocorrer à sua volta: descobria o que as pessoas pensavam, gerava notas musicais, fazia objetos se moverem à distância.

Diz-se que essa utilização de suas energias provocou uma transformação em sua saúde e, menos de um ano após ter voltado à Rússia, ficou gravemente enferma. Quatro anos depois, ficou em estado ainda pior, mas nas duas ocasiões ela teve uma cura tida como misteriosa. Mais que isso, após essa segunda doença ela passou a ser capaz de controlar os fenômenos e detê-los com sua vontade.

Em 1867, ela retomou à Índia e finalmente pôde se encontrar com seu mestre Morya, e também com o mahatma Koot Hoomi, que também se tornou seu professor. Ela passou três anos estudando com eles, aprendendo a ler e a traduzir para o inglês os mais sagrados textos tibetanos e senzar (senzar é o nome da linguagem secreta sacerdotal).

Entre esses, estava O Livro dos Preceitos Dourados (The Book of the Golden Precepts), dos quais ela traduziu fragmentos com o título The Voice of the Silence (A Voz do Silêncio); e o ainda mais famoso The Book of Dzyan (O Livro Perdido de Dzyan: O Livro Perdido de Dzyan), cujas estrofes, ou estâncias, formam a base de sua A Doutrina Secreta.

Antiga Sabedoria

Blavatsly deixou o Tibete em 1870, dirigindo-se ao Cairo, onde tentou organizar uma sociedade de investigação de fenômenos mediúnicos, logo deixada de lado devido à grande quantidade de fraudes perpetradas pelos médiuns locais.

Um ano depois, seu mestre disse que ela deveria ir para os EUA, exatamente onde tinham se iniciado os fenômenos ligados à comunicação com os espíritos, que nessa época já estavam sendo bastante investigados sob o ponto de vista científico. Ao chegar em Nova York, leu artigos escritos pelo advogado Henry S. Olcott, referindo-se a manifestações que ocorriam na casa dos irmãos Eddy. Ela se encontrou com eles e tentou mostrar-lhes que as aparições não eram de espíritos, mas sim, materializações de entidades astrais inferiores.

Outro advogado, William Q. Judge, foi atraído para o grupo, e Blavatsky começou a ensinar a eles o que havia aprendido sobre espiritualismo. Os três seriam os principais fundadores da Sociedade Teosófica, em 1875.

Nos dois anos seguintes, Blavatsky dedicou seu tempo a escrever, elaborando o seu primeiro livro, Ísis Sem Véu, publicado em 1877, que atingiu um sucesso inesperado. E já em 1879, a Sociedade Teosófica transferia seu centro para Bombaim, na Índia, onde enfrentou novas dificuldades, uma vez que dedicava grande afeição a todas as religiões locais, consideradas pagãs pelos cristãos. 

Blavatsky foi acusada de odiar os cristãos, de imoralidade e até mesmo de ser uma espiã do governo russo. Se isso não bastasse, alguns hindus também a criticavam por aceitar pessoas que não tinham a fé hindu e que acreditavam em magia. No entanto, como o estudo sem quaisquer preconceitos era uma das bases da Sociedade, eles continuaram a trabalhar sem dar atenção às acusações e críticas, unindo-se apenas às pessoas que pensavam e agiam de acordo com esses preceitos.

A Doutrina Secreta
Uma das grandes preocupações de Blavatsky foi com a atenção que o público dava para a manifestação de fenômenos, mais do que para os ensinamentos de seus mestres e para a sabedoria tradicional.

Nesse sentido, as declarações de A.P. Sinnett também foram prejudiciais. Blavatsky e Olcott conheceram Sinnett em 1879, época em que ele era editor do jornal The Pioneer e muito interessado nos fenômenos psíquicos, que ele tinha presenciado em Londres.

Sinnett e sua esposa juntaram-se à Sociedade Teosófica e, no ano seguinte, presenciaram uma série de fenômenos que tiveram como centro a própria Blavatsky, que creditava o ocorrido aos seus mestres.

Assim, Sinnett iniciou um contato de quatro anos com os mestres, que resultou nas chamadas "Cartas dos Mahatmas", que tratavam especialmente de ensinamentos filosóficos e éticos do conhecimento ancestral. Mas com sua tendência para abordar os fenômenos, Sinnett acabou chamando a atenção do público para os poderes psíquicos de Blavatsky, exatamente o que ela não queria.

Em 1884, os médicos disseram que Blavatsky teria que ir para um clima mais ameno, uma vez que sua saúde estava bastante debilitada com as constantes viagens e problemas crônicos nos rins. Antes de partir para a Europa, Blavatsky e a Sociedade tiveram mais probemas, sendo acusados de fraude num relatório da Society for Psychical Research, assinado por Richard Hodgson.

Ela chegou a ser acusada de ter inventado os mahatmas e suas cartas. Mais do que nunca, Blavatsky entendia que precisava terminar sua obra principal, A Doutrina Secreta, e resolveu se mudar para Londres em 1887, publicando a obra no ano seguinte.

Em seus últimos anos de vida, Blavatsky tentou de todas as formas reforçar a posição da Sociedade Teosófica no mundo, inclusive enfrentando problemas internos que ameaçavam o entendimento da verdadeira mensagem. As dissensões internas acabariam por provocar um rompimento de fato da Sociedade, mas Blavatsky não chegou a ver esse momento. Ela faleceu em 1891.

Annie Besant - considerada a continuadora da obra de Blavatsky - ficou à frente da seção européia da Sociedade Teosófica, e William Q. Judge (1851 - 1896) da seção norte-americana, com Olcott presidindo até sua morte, em 1907. Algumas fontes afirmam que o próprio Judge encabeçou um movimento de separação ao fundar a The Theosophical Society in America, que posteriormente mudaria o nome para Universal Brotherhood and Theosophical Society.

Outra ramificação da Sociedade foi a Sociedade Geral Antroposófica, fundada por Rudolf Steiner (1861 - 1925). Mas Besant é considerada a sucessora de fato. Ela conheceu Blavatsky em 1890, mas já estudava temas ligados à espiritualidade e aos fenômenos psíquicos desde 1886. Deu grande importância ao aspecto educacional da teosofia, fundando o Hindu Central College, em Benares, e a Universidade Nacional Indiana, em Adyar, na Índia.

Um dos maiores problemas com relação à sua liderança foi sua afirmação de que um novo messias reencarnaria na pessoa do seu discípulo Krishnamurti, afirmação que provocou a separação de Steiner."

Gilberto Schroeder

Desde 1971, a líder da Sociedade Teosófica é Grace F. Knoche, com a sede em Pasadena, EUA.

Mais sobre a Teosofia, Madame Blavatsky e sua obra:

Site: http://www.sociedadeteosofica.org.br/

Livros:

A Doutrina Secreta (6 volumes) - Pensamento
Síntese da Doutrina Secreta - Pensamento 
Ísis Sem Véu (4 volumes) - Pensamento
A Doutrina Mística - Século XXI
Glossário Teosófico - Ground
A Chave para a Teosofia - Teosófica
Fundamentos da Filosofia Esotérica – Teosófica

Imagem: A médium Espírita Helena Petrovna Blavatsky e o Coronel Henry Steel Olcott em 1888. (domínio público)

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