O Evangelho Segundo o Espiritismo é uma obra de Allan Kardec. Publicada em Paris, no mês de abril de 1864, avalia os evangelhos sob a ótica da Doutrina Espírita. O livro aborda a aplicação dos princípios da moral cristã e de questões religiosas como a prece e a caridade. Entre as cinco obras fundamentais do espiritismo, compiladas por Allan Kardec, é a que dá maior enfoque a questões éticas e comportamentais do ser humano. Na página 380, da tradução para o portugês feita por Gullon Ribeiro, da 3ª edição francesa revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866, extraímos orientação sobre "Preces pagas" e conclusão com "Mercadores expulsos do templo" na pg. 381 da mesma publicação:
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Disse em seguida a seus discípulos, diante de todo o povo que o escutava: - Precatai-vos dos escribas que se exibem a passear com longas túnicas, que gostam de ser saudados nas praças públicas e de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos festins; - que, a pretexto de extensas preces, devoram as casas das viúvas. Estas pessoas receberão condenação mais rigorosa. (S. Lucas, cap. XX, vv.45 a 47; - S. Marcos, cap. XII, vv.38-40; - S. Mateus, cap. XXIII, v. 14.)
4 – Disse também Jesus: não façais que vos paguem as vossas preces; não façais como os escribas que, “a pretexto de longas preces, devoram as casas das viúvas”, isto é, abocanham as fortunas. A prece é ato de caridade, um arroubo do coração. Cobrar alguém que se dirija a Deus por outrem, é transformar-se em intermediário assalariado. A prece, então, fica sendo uma fórmula, cujo comprimento se proporciona a soma que custe. Ora, uma de duas: Deus mede ou não mede as suas graças pelo número das palavras. Se estas forem necessárias em grande número, por que dizê-las poucas, ou quase nenhumas, por aquele que não pode pagar? É falta de caridade. Se uma só basta, é inútil dizê-las em exesso. Por que então cobrá-las? É prevaricação.
Deus não vende os benefícios que concede. Como, pois, um que não é, sequer o distribuidor delas, que não pode garantir a sua obtenção, cobraria um pedido que talvez nenhum resultado produza? Não é possível que Deus subordine um ato de clemência, de bondade ou de justiça, que da sua misericórdia se solicite, a uma soma em dinheiro. Do contrário, se a soma não fosse paga ou fosse insuficiente, a justiça, a bondade e a clemência de Deus ficariam em suspenso. A razão, o bom-senso e a lógica dizem ser impossível que Deus, a perfeição absoluta, delegue a criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preço para a sua justiça. A justiça de Deus é como o Sol: existe para todos, para o pobre como para o rico. Pois que se considera imoral traficar com as graças de um soberano da Terra. Poder-se-á ter por lícito o comércio com as do soberano do Universo?
Ainda outro inconveniente apresentam as preces pagas; é que aquele que as compra se julga, as mais das vezes, dispensado de orar ele próprio, porquanto se considera quite, desde que deu o seu dinheiro. Sabe-se que os Espíritos se sentem tocados pelo fervor de quem por eles se interessa. Qual pode ser o fervor daquele que comete a terceiro o encargo de por ele orar, mediante paga? Qual o fervor desse terceiro, quando delega o seu mandato a outro, este a outro, e assim por diante? Não será isso reduzir a eficácia da prece ao valor de uma moeda em curso?"
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Eles vieram em seguida a Jerusalém, e Jesus, entrando no templo, começou por expulsar dali os que vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e os bancos dos que vendiam pombos; - e não permitiu que alguém transportasse qualquer utensílio pelo templo. - Ao mesmo tempo os instruia, dizendo: Não está escrito: Minha casa será chamada casa de oração por todas as nações? Entretanto, fizestes dela um covil de ladrões! - Os príncipes dos sacerdotes, ouvindo isso, procuravam meio de o perderem, pois o temiam, visto que todo povo era tomado de admiração pela sua doutrina. (S. Marcos, cap.XI, vv. 15 a 18; - S. Mateus, cap.XXI, vv. 12 e 13.)
6 - Jesus expulsou do templo os mercadores. Condenou assim o tráfico das coisas santas sob qualquer forma. Deus não vende a sua bênção, nem o seu perdão, nem a entrada no reino dos céus. Não tem, pois, o homem o direito de lhes estipular preço.