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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Patrimônio Imaterial na tradição carioca

Todo dia dou uma corrida nos buscadores pra saber das coisas, claro entre os temas que busco a Umbanda está sempre presente. Acontece que hoje me deparei com uma postagem no blog da Maria Helena (O Globo) que tinha passado batida. No post "Notas Cariocas", escrito pela jornalista Mirtes Guimarães em 26.7.2009, pude ler um belo ensaio sobre a forte presença das Religiões de Matriz Africana na cultura carioca. Mirtes também fala sobre o signicado e a importância de Umbanda e Candomblé terem tornado-se Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro. Vale a pena transcrever aqui sem mudar uma vírgula sequer, que não leu eis aí a oportunidade:

Tem coisas que demoram um pouco, mas nunca passam batidas... RSJ

"Agora é lei. A umbanda e o candomblé são patrimônios imaterais do Estado do Rio de Janeiro. E eu, que tanto critico o PT, tiro o chapéu para o deputado Gilberto Palmares pela iniciativa. As duas religiões afro-brasileiras fazem parte da história e da cultura carioca. E mesmo sofrendo preconceitos ao longo do tempo, elas resistiram e influenciaram a vida de quem mora por aqui.

A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.

E neste contexto a umbanda e o candomblé têm criado manifestações que aos poucos ultrapassaram os limites da religião. Basta lembrar do 31 de dezembro carioca. Usar branco e saudar o ano-novo nas praias era uma prática restrita a estes grupos. Aos poucos, o ritual com seu batuque, flores e oferendas, foi chamando a atenção e a curiosidade dos demais cariocas. E hoje, cariocas, brasileiros e estrangeiros de todos os credos escolhem a praia como local para a passagem do ano. E, temos que admitir que conhecemos pelo menos uma pessoa que mesmo não sendo umbandista ou do candomblé não deixa de levar uma flor ou uma vela para Yemanjá. Isto sem falar de um mergulho ou pelo menos uma molhadinha nas mãos para entrar o ano-novo purificado e energizado.

O padroeiro da cidade é São Sebastião, mas o santo mais popular e que merece maior devoção é São Jorge. E a força do santo guerreiro está diretamente ligada a estas duas religiões, onde ele é Ogum, aquele que veio para ser o vencedor das grandes batalhas, o desbravador que busca a evolução. Seu dia, 23 de abril, é festejado tanto nos terreiros como nos templos. E “sua espada” é encontrada em várias casas de cariocas. O sincretismo também está presente no dia de outros santos como São Cosme e Damião. E a tradição carioca de doar doce e brinquedos para as crianças no dia 27 de setembro, é 100% destas religiões. Como também o é o uso de roupas brancas nas sextas-feiras. Hábitos alimentares e o uso de ervas em forma de chá, de emplastos e de banhos também se popularizaram através do conhecimento propagado pela umbanda e pelo candomblé. Ao unir espiritismo, crenças dos índios e do catolicismo, as duas religiões são também depositárias da nossa herança cultural.

Além disto, tudo, a iniciativa de Gilberto Palmares é louvável também por servir como instrumento contra a intolerância religiosa que infelizmente vem aumentando no Rio. Templos afros estão sendo invadidos e destruídos. Seus perseguidores e detratores costumam dizer que se estas religiões fossem boas não teriam o nome de “macumba”. Pregadores dizem que estas são religiões do “diabo”, e do “encosto”. Oferendas são chutadas. E até barracas que vendem ervas e plantas, destruídas. E ações deste tipo não devem ser menosprezadas nem minimizadas e sim criticadas e denunciadas, inclusive a polícia. E neste contexto, o título de Patrimônio Imaterial valoriza estas religiões reconhecendo a importância dela para a cidade e o estado. E mais do que isto reafirma o respeito que se deve ter a fé e a tradição de um povo. E que Ogum, e todos os orixás, continuem, junto com São Sebastião, a proteger os habitantes desta cidade!" - Mirtes Guimarães 26.7.2009

Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/posts/2009/07/26/notas-cariocas-208423.asp

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