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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Os Mistérios da Mente e a Inteligência (Sexto Sentido nº 54)

Por Francisco Claussen


"Vai chegar o ponto em que a humanidade atingirá o ponto de fusão completa entre a matéria densa e a matéria sutil, chegando ao que se pode chamar de Inteligência Cósmica.

Como dizia Walter Rudolf Hess (1881-1973), da Universidade de Zurique, Prêmio Nobel de Medicina em 1949:
“Para estudar a mente, devemos começar pela introspecção observação de nossa própria experiência. Suponha que passemos juntos pelo meu jardim. Pelas reações e comentários que você fizer posso deduzir-lhe os sentimentos e pensamentos, e muitas coisas sobre o seu estado de espírito. Uma rosa amarela pode atrair-lhe atenção. A cor, o perfume e a picada do espinho formam em sua mente uma impressão dessa rosa, a qual se funde logo com impressões passadas. A sua imagem da rosa deveria ser igual à minha, porém elas não se assemelham porque duas mentes jamais são iguais”
As impressões que recebemos se integram em nossas memórias e assim corporificam a nossa experiência. Nosso comportamento individual é determinado pela associação de impressões novas com a lembrança de experiências anteriores.

A mente pode lidar com situações complexas usando a abstração e a associação, e chegar a conclusões lógicas que podem resultar em decisões ou criações. O modo pelo qual as intenções podem ser convertidas com precisão em movimentos hábeis (pense em um cirurgião, um pianista, um atirador) nos dá uma indicação geral da correlação entre o mental e o físico.

Através de experiências com homens e animais, sabemos que certos tipos de comportamento se relacionam com zonas bem definidas do cérebro. Pela estimulação elétrica do tronco encefálico e das áreas adjacentes podemos despertar reações de defesa, vôo e fome; estimulando níveis superiores, o riso compulsivo; pela estimulação do córtex, reações visuais e auditivas, entre outras.

São fascinantes os resultados desse tipo de pesquisa no cérebro, mas e preciso compreender que eles mal chegam a constituir um começo. A grande lacuna que devemos transpor em nosso conhecimento da mente continua sendo esta: de que maneira as ações do sistema nervoso se transformam em consciência?

A mente e seus processos sempre foram tão misteriosos e fascinantes para o homem quanto o próprio universo. Mas, de um modo relativo, faz pouco tempo que o estudo da mente se tornou um campo da ciência experimental.

Com tal abordagem científica, o conhecimento da mente veio a lucrar muito. No século 19, muita coisa se esclareceu sobre a natureza dos processos mentais, as origens da vida emocional e vário tipos de comportamento. E a medida que surgiam noções novas, as teorias antigas e simplistas foram sendo substituídas por indagações cada vez mais complexas.

René Descartes (1596-1650) definiu o pensamento como o conjunto dos processos mentais conscientes: pensamentos intelectuais, sentimentos, sensações e vontade. Achava que a mente trabalhava sempre, até durante o sono. Fez uma divisão completa e total entre o espírito e o corpo, bem mais drástica do que a divisão de Platão (427-347 a.C.), que pelo menos atribui a sensação ao corpo. Além disso, prestou um serviço inestimável por atribuir à mente todos os processos.

Mas o homem ainda pergunta: O que é a mente? Será que os mistérios vão desaparecer quando entendermos o funcionamento da complexa estrutura anatômica que chamamos de sistema nervoso? Ou a mente tem os seus próprios segredos?

A concepção que os antigos gregos tinham da mente era bem simples: ela era o órgão que se relacionava apenas com as idéias puras. Platão negava, do modo mais explícito, haver alguma ligação com a sensação. A seu ver, a sensação era a função do corpo inferior, sendo este destituído de qualquer atividade intelectual.

Aristóteles (384-322 a.C.) respeitava bem mais o corpo, achando que ele era governado por poderes psíquicos dignos da atenção dos filósofos, poderes relacionados com movimento e sensação. Tão precárias eram suas noções de anatomia que, para ele, a sede física da vida mental era o coração, e não o cérebro, não obstante ter antecipado o pensamento moderno com a crença de que a matéria viva era misteriosamente animada por poderes psíquicos.

Os primeiros cristãos admiravam mais Platão do que Aristóteles, e em toda a Idade Média considerava-se que a alma pertencia a Deus e o corpo, a Satanás. Apenas a alma podia conhecer a verdade de Deus. Apenas dois mil anos depois de Aristóteles, outro grande filósofo reabriu a velha questão com um novo espírito de investigação.

Foi o francês René Descartes. A mente ativa de Descartes abarcou todos os ramos do conhecimento de seu tempo: matemática, fisiologia, mecânica e filosofia. Cristão devoto, sua filosofia foi uma tentativa corajosa de reconciliar os métodos científicos com a fé em Deus, harmonizar a teoria mecanicista do mundo com a aceitação de que este era criação de Deus. Procurou usar métodos científicos para provar verdades sobre o espírito e a matéria. Daí sua famosa máxima: “Penso, logo existo”; isto é, a existência do espírito não era uma doutrina revelada, mas fato fácil de observar.

O conhecimento da mente era ainda concebido como uma acumulação de “idéias” estáticas, embora as sensações já estivessem incluídas como parte dele. Era como se a mente fosse vista como um depósito que, de repente, era encontrado repleto de todos os tipos possíveis de objetos.

Há dois mil anos, o estadista e filósofo romano Lúcio Sêneca (3 a.C.-65 d.C.) declarou: “O homem é um animal que pensa”. E ao longo dos tempos os psicólogos continuaram a indagar: O que é o pensamento?

O médico alemão que se fez filósofo, Wilhelm Wundt (1832-1920), usando suas técnicas e métodos, expandiu suas investigações para muito além do campo da sensação pura. Começou a identificar uma série de funções mentais bem semelhantes àquelas em que o homem baseara suas primeiras alegações de superioridade sobre outros animais.

A memória e a aprendizagem suscitam dificuldades semelhantes. Os animais podem aprender muita coisa. O comportamento de alguns animais superiores, como os elefantes, por exemplo, mostra que usam a lembrança do que aprenderam para ajudar a resolver problemas posteriores.

Pensamento, consciência, memória e aprendizagem são termos diversos para indicar que a vida mental inclui significação, conhecimento. Fica, assim, clara a superioridade do homem sobre os animais. Desde que entendamos um conceito, podemos generalizar. Podemos evocá-lo repentinamente, como na memória, e com base nele fazer previsões com o uso da imaginação e de técnicas novas ainda em desenvolvimento, e nisso está a nossa maior esperança de obter o conhecimento pleno dos processos mentais.

Anatomistas e fisiologistas têm revelado a estrutura detalhada do sistema nervoso e os meios pelos quais funciona. Médicos estudam os efeitos de lesões e doenças, e, de suas observações sobre a mente anormal, chegam a conclusões sobre a mente normal. Psicólogos realizam experimentos sobre o comportamento e a percepção de homens e animais.

Constroem-se máquinas eletrônicas para imitar, até onde é possível, os processos de pensamento, e com eles já aprendemos alguma coisa quanto à aprendizagem e memória. Com os sistemas mais complexos que quase diariamente estão sendo inventados, iremos certamente aprender mais sobre outras funções superiores desse fascinante fator da vida, que é a mente.

Conviria, nesse particular, dizer mais alguma coisa sobre a inteligência. É muito comum nos referirmos a ela, mas nem sempre os significados atribuídos ao termo são idênticos e, às vezes, até um pouco contraditórios. É preciso que se entenda que a inteligência não é uma coisa, como uma mesa, uma cadeira, um animal, mas sim um conceito que só pode ser compreendido dentro de um conjunto global de fatos e teorias a ela associadas.

As origens dessa definição se perdem na antiguidade. Sabe-se que Platão e Aristóteles já tinham formulado uma distinção entre os aspectos conhecidos da natureza humana, relacionada com pensamento, solução de problemas, meditação, raciocínio, reflexão, e ainda sobre categorias dos comportamentos humanos relacionados com emoções, sentimentos, paixões e vontade; até que Cícero, mais tarde, inventou o termo inteligência, que ainda usamos freqüentemente para nos referirmos aos poderes cognitivos e capacidades intelectuais de uma pessoa.

No século passado, a noção de inteligência foi aperfeiçoada pelo filósofo Herbert Spencer (1820-1903), pelo estatístico Karl Pearsone, e pelo primo de Darwin, gênio mundialmente conhecido, Sir Francis Galton.

Eles introduziram as noções de mensuração, evolução e genética experimental no estudo da inteligência. Pode-se acrescentar a essas contribuições as dos fisiologistas, particularmente a do trabalho clínico de Hughlings Jackson, as investigações experimentais de Sherrington e os estudos microscópicos do cérebro, realizados por Campbell, Brodman e outros.

Esses trabalhos fisiológicos serviram para confirmar a teoria de Herbert Spencer, de uma hierarquia das funções neurais em que um tipo básico de atividades se desenvolve através de estágios regularmente definidos, em formas mais altas e mais especializadas.

Descobriu-se que o cérebro sempre atua como um todo. Sua atividade, nas palavras de Sherrington, é padronizada e não indiferentemente difusa; a própria padronização sempre envolve e implica em integração, e o conhecimento cognitivo é governado por amplas áreas do cérebro e não por pequenas áreas especializadas. A ação de massa foi identificada teoricamente com a inteligência, por muitos autores.

A evolução da humanidade em seu caminho para a eternidade vem se tornando possível com a agregação dessa energia cósmica ao último elo mais aperfeiçoado do gênero mamífero, que se desenvolveu durante milhões de anos em nosso planeta. Essa situação deverá levar a humanidade, progressivamente, a um estágio de aperfeiçoamento da sua matéria densa, quando ocorreria a fusão completa da matéria densa com a matéria sutil – a Inteligência Cósmica.

Ao ser atingido esse estágio, assim entendemos, tudo retornaria à pura e simples energia da qual surgiu o universo em que vivemos. Mas para que isso aconteça, ainda decorrerão bilhões de anos, e o que a ciência hoje já chama de crush-bang (o grande esmagamento).

O fluido energético, a Inteligência Cósmica de que fomos dotados há, provavelmente, cerca de 600 mil anos – quando a natureza encontrou o tipo ideal para estabelecer e desenvolver o ser humano que veio se formando durante milhões de anos em nosso planeta – aperfeiçoou a nossa vida intelectual, como uma virtude que sintetiza, de um modo excelente, a disposição duradoura adquirida pela repetição freqüente de um ato.

À medida que essas primeiras virtudes intelectuais começaram a determinar e aperfeiçoar a atividade própria de nossa inteligência – no que diz respeito aos objetos que lhes eram imediatamente conaturais – a sabedoria foi aperfeiçoando nossa atividade intelectual naquilo que ela possui de mais puro e mais elevado.

Por natureza, há no homem o desejo pelo conhecimento, e esse desejo pode ser satisfeito, em, parte, pelas ciências ou outras formas de conhecimento intuitivo. Somente a virtude da sabedoria, entretanto, satisfaz plenamente a este anseio profundo do homem. 

A contemplação, por exemplo, nada mais é do que o ato excelente produzido por essa virtude. As demonstrações científicas ou as que procedem desse hábito, são normalmente mais rigorosas e mais corretas do que aquelas que derivam das demais ciências. Os julgamentos, obras do hábito da sabedoria, são, os mais penetrantes, os mais exatos.

Pode-se mesmo caracterizar o modo que a sabedoria imprime a todos os seus conhecimentos como uma maneira de unidade na perfeição. Este modo de unidade é, de fato, a feição própria de uma atividade intelectual perfeita, que tende a reduzir o mais possível as imperfeições de nossas atividades de conhecimento, sempre fragmentárias e sucessivas."

Fonte: revista Sexto Sentido nº 54, páginas 20-24 - http://www.revistasextosentido.net/

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