Pela ocasião da passagem de ano no calendário Maia (26/07), o ano-novo galáctico, recordemos e memoremos os verdadeiros objetivos e preceitos do Espiritismo, que tem na união, amor e caridade suas principais bandeiras...
Em carta enviada por Allan Kardec à Sociedade Espírita de Lyon, por ocasião da passagem do ano-novo do calendário cristão, de 1862, o decodificador da Doutrina Espírita resume os verdadeiros objetivos do Espiritismo, os quais lembramos em trecho transcrito nesta postagem.
Kardec já alertava sobre os cuidados que devemos ter com os inimigos do Espiritismo, com as tentativas de divisão do movimento por inimigos que iriam buscar plantar a divisão e a dissolução através de discussões políticas e intolerância religiosa, "criando sistemas divergentes e suscitando entre eles (nós) a desconfiança e a inveja."
Ano-Novo e Nova Era
No dia 26 de julho é comemorado o ano-novo no calendário Maia. O "Ano-Novo Galáctico". Por oportunidade dessa ocasião e em meio às grandes transformações pelas quais passa a sociedade humana. Devemos estar alertas para com as divisões provocadas pela polarização política que racha a sociedade nos maiores países do mundo, e a pandemia de coronavírus que vivemos em 2020. Se faz assim assaz lembrar as palavras de Allan Kardec.
Temos historicamente a oportunidade e obrigação de aprender com os acontecimentos. Despertar para a coletividade, para o cuidado com a nossa casa comum, buscando por tempos de maior igualdade, fraternidade e justiça social. A união dos povos, através das pessoas de boa vontade, pode fazer com que o mundo saia um lugar melhor para se viver. A humanidade não pode valorizar novamente o ter em detrimento do ser, isto seria um grande erro.
Cabe a nós plantar e cultivar o amor ao próximo, assim como o Cristo nos ensinou, e deixar as diferenças e divisões no passado. Como nos lembrou Kardec: "fora da caridade não há salvação." Se depois dessa pandemia não nos tornarmos pessoas melhores, então não teremos aprendido nada da vida. Vivemos um momento no qual o ser humano é chamado para voltar a ser humano!
Cumprimentos de ano-novo (Revista Espírita, 1862)
"... A tática ora em ação pelos inimigos dos espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor, é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança e a inveja. Não vos deixeis cair na armadilha, e tende certeza de que quem quer que procure, seja por que meio for, romper a boa harmonia, não pode ter boas intenções. Eis por que vos advirto para que tenhais a maior circunspeção na formação dos vossos grupos, não só para a vossa tranquilidade, mas no próprio interesse dos vossos trabalhos.
A natureza dos trabalhos espíritas exige calma e recolhimento. Ora, isto não é possível se somos distraídos pelas discussões e pela expressão de sentimentos malévolos. Se houver fraternidade, não haverá sentimentos malévolos, mas não pode haver fraternidade com egoístas, ambiciosos e orgulhosos. Com orgulhosos que se chocam e se ferem por tudo; com ambiciosos que se desiludem quando não têm a supremacia; com egoístas que só pensam em si mesmos, a cizânia não tardará a ser introduzida. Daí, vem a dissolução. É o que queriam nossos inimigos e é o que tentarão fazer.
Se um grupo quiser estar em condições de ordem, de tranquilidade, de estabilidade, é preciso que nele reine um sentimento fraterno. Todo grupo ou sociedade que se formar sem ter por base a caridade efetiva não terá vitalidade, enquanto os que se formarem segundo o verdadeiro espírito da doutrina olhar-se-ão como membros de uma mesma família que, não podendo viver todos sob o mesmo teto, moram em lugares diversos.
Entre eles, a rivalidade seria uma insensatez, pois ela não poderia existir onde reina a verdadeira caridade, porque a caridade não pode ser entendida de duas maneiras. Reconhecei, pois, o verdadeiro espírita pela prática da caridade em pensamentos, palavras e atos, e dizei a vós mesmos que aquele que em sua alma nutre sentimentos de animosidade, de rancor, de ódio, de inveja e de ciúme mente para si mesmo se pretende compreender e praticar o Espiritismo.
O egoísmo e o orgulho matam as sociedades particulares, como matam os povos e as sociedades em geral. Lede a história e vereis que os povos sucumbem sob o abraço desses dois mortais inimigos da felicidade humana.
Quando se apoiarem nas bases da caridade, serão indissolúveis, porque estarão em paz entre si e consigo mesmos, cada um respeitando os bens e os direitos de seu vizinho. Essa será a nova era predita, da qual o Espiritismo é o precursor, e para a qual todo espírita deve trabalhar, cada um na sua esfera de atividade.
É uma tarefa que lhes incumbe, e da qual serão recompensados conforme a maneira pela qual a tenham realizado, pois Deus saberá distinguir os que no Espiritismo só procuraram a sua satisfação pessoal, dos que ao mesmo tempo trabalharam pela felicidade de seus irmãos.
Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários, a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar suscetibilidades e desconfianças.
Não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quando se refere à política e a questões irritantes; a tal respeito, as discussões apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém terá nada a objetar à moral, quanto esta for boa.
Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar: eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais realmente úteis serão uma consequência natural; trabalhando pelo progresso moral, lançareis os verdadeiros e mais sólidos fundamentos de todas as melhoras, e deixareis a Deus o cuidado de fazer com que cheguem no devido tempo. No próprio interesse do Espiritismo, que é ainda jovem, mas que amadurece depressa, oponde uma firmeza inquebrantável aos que quiserem vos arrastar por uma via perigosa.
Visando desacreditar o Espiritismo, pretendem alguns que ele vá destruir a religião. Sabeis exatamente o contrário, pois a maioria de vós, que mal acreditáveis em Deus e na alma, agora creem; quem não sabia o que era orar, ora com fervor; quem não mais punha os pés nas igrejas, agora vai com recolhimento.
Aliás, se a religião devesse ser destruída pelo Espiritismo, é que ela seria destrutível e o Espiritismo seria mais poderoso. Dizê-lo seria uma inabilidade, pois seria confessar a fraqueza de uma e a força do outro.
O Espiritismo é uma doutrina moral que fortalece os sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as religiões; ele é de todas, e não é de nenhuma em particular; por isso não diz a ninguém que a troque; deixa a cada um livre para adorar Deus à sua maneira e para observar as práticas que sua consciência lhe dita, pois Deus leva mais em conta a intenção do que o fato. Ide, pois, cada um aos templos do vosso culto, e provai com isso que vos caluniam quando vos taxam de impiedade.
... Se alguns quiserem fazer um grupo à parte, não os olheis com maus olhos; se vos atirarem pedras, nem as recolhais, nem as devolvais: entre eles e vós Deus será juiz dos sentimentos de cada um. Aqueles que creem ser os únicos a estar com a verdade que o provem por uma maior caridade e uma maior abnegação de amor-próprio, porque a verdade não poderia estar ao lado daquele que falta ao primeiro preceito da doutrina.
Se estiverdes em dúvida, fazei sempre o bem: os erros do espírito pesam menos na balança de Deus que os erros do coração.
Repetirei aqui o que disse noutras ocasiões: em caso de divergência de opinião, o meio fácil de sair da incerteza é ver qual a que reúne mais partidários, pois há nas massas um bom-senso inato que não se poderia enganar. O erro só seduz alguns espíritos enceguecidos pelo amor próprio e por um falso julgamento, mas a verdade sempre acaba vencendo.
Tende certeza, portanto, que o erro deserta das fileiras que se esclarecem e que há uma obstinação irracional em crer que um só tenha razão contra todos. Se os princípios que eu professo só tivessem ecos isolados, e se tivessem sido repelidos pela opinião geral, eu seria o primeiro a reconhecer que poderia ter me enganado; mas vendo crescer incessantemente o número dos aderentes em todas as camadas da sociedade e em todos os países do mundo, devo acreditar na solidez das bases sobre as quais repousam.
Eis por que vos digo com toda a segurança para que marcheis com passo firme na via que vos é traçada. Dizei aos antagonistas que se eles querem que os sigais, que vos ofereçam uma doutrina mais consoladora, mais clara, mais inteligível, que melhor satisfaça à razão e que, ao mesmo tempo, seja uma garantia melhor para a ordem social.
Pela vossa união, frustrai os cálculos dos que vos queiram dividir; provai, enfim, pelo vosso exemplo, que a doutrina nos torna mais moderados, mais dóceis, mais pacientes, mais indulgentes, o que será a melhor resposta a dar aos seus detratores, ao mesmo tempo que a visão de seus resultados benéficos é o mais poderoso meio de propaganda.
Eis, meus amigos, os conselhos que vos dou e aos quais junto os meus votos para o ano que começa. Não sei que provas Deus nos destina para este ano, mas sei que, sejam quais forem, as suportareis com firmeza e resignação, pois sabeis que para vós, como para o soldado, a recompensa é proporcional à coragem.
Quanto ao Espiritismo, pelo qual vos interessais mais do que por vós mesmos, e cujo progresso, pela minha posição, posso julgar melhor que ninguém, sinto-me feliz em dizer-vos que o ano se inicia sob os mais favoráveis auspícios, e que ele verá, sem dúvida nenhuma, o número dos adeptos crescer numa proporção imprevisível. Mais alguns anos como estes que se passaram, e o Espiritismo terá a seu favor três quartas partes da população. Deixai que vos cite um fato entre milhares.
Num departamento vizinho de Paris há uma cidadezinha onde o Espiritismo penetrou apenas há seis meses. Em poucas semanas tomou um desenvolvimento considerável. Uma oposição formidável logo foi organizada contra os seus partidários, ameaçando até os seus interesses particulares. Eles enfrentaram tudo com uma coragem e um desinteresse dignos dos maiores elogios. Entregaram-se à Providência e a Providência não lhes faltou.
Essa cidade conta com uma população operária numerosa, em cujo meio as ideias espíritas, graças à oposição levantada, aumenta dia a dia. Ora, um fato digno de nota é que as mulheres e as moças esperaram sua gratificação de ano-novo para comprar as obras necessárias à sua instrução e só para essa cidade um livreiro teve que remetê-las às centenas.
Não é prodigioso ver simples operárias reservarem suas economias para comprar livros de moral e de filosofia em vez de romances e bugigangas? Homens preferindo essa leitura às alegrias barulhentas e embrutecedoras do cabaret? Ah! É que aqueles homens e aquelas mulheres, que sofrem como vós, agora compreendem que não é aqui que se realiza o seu destino.
Abrem-se as cortinas, e eles entreveem os esplêndidos horizontes do futuro.
Essa cidadezinha é Chauny, no departamento do Aisne. Novos filhos da grande família, eles vos saúdam, irmãos de Lyon, como seus irmãos maiores, e desde já formam um dos elos da cadeia espiritual que une Paris, Lyon, Metz, Sens, Bordeaux e outras, e que em breve ligarão todas as cidades do mundo num sentimento de mútua confraternidade, porque em toda parte o Espiritismo lançou sementes fecundas e seus filhos se dão as mãos por cima das barreiras dos preconceitos de seitas, castas e nacionalidades.
Vosso muito dedicado irmão e amigo,
ALLAN KARDEC"
Fonte: Trecho da resposta de Allan Kardec à mensagem dos espíritas lioneses por ocasião do Ano Novo: "Cumprimentos de ano-novo" (Revista Espírita 1862) reprodução do Portal IPEAK - Imagem: foto gratuita pxhere e imagem com os dizeres "Se depois dessa pandemia não nos tornarmos pessoas melhores, então não teremos aprendido nada da vida" - material em domínio público, se reproduzir por favor faça a citação das devidas fontes.
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