Obaluaiê – Omolú – Xapanã
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Seu Omolú, por Luís Antonio Modesto |
"Para a maior parte dos devotos do Candomblé e da Umbanda, os nomes são praticamente intercambiáveis, referentes a um mesmo arquétipo e, correspondentemente, uma mesma divindade.
Já para alguns babalorixás, porém, há de se manter certa distância entre os dois termos, uma vez que representam tipos diferentes do mesmo Orixá.
São também comuns as variações gráficas Obaluaê e Abaluaê.
Em termos mais estritos, Obaluaê é a forma jovem do Orixá Xapanã, enquanto Omolú é sua forma velha. Como porém, Xapanã é um nome muito respeitado tanto no Candomblé como na Umbanda, em sinal de respeito não devendo ser mencionado, a forma Omolú é a que mais se popularizou e acabou sendo confundida não apenas com a forma mais velha do Orixá, mas com sua essência genérica em si. Esta distinção se aproxima da que existe entre as formas básica de Oxalá: Oxalá (Jesus Cristo), Oxaguiã a forma jovem (Menino Jesus) e Oxalufã a forma mais velha (Cristo Cósmico).
A figura de Omolú-Obaluaê, assim como seus mitos, é completamente cercada de mistérios e dogmas indevassáveis. Em termos gerais, a essa figura é atribuído o controle sobre todas as doenças, especialmente as epidêmicas e suas respectivas curas. Faria parte da essência básica vibratória do Orixá tanto o poder de causar a doença como o de possibilitar a cura do mesmo mal que criou.
Em algumas narrativas mais tradicionalistas tentam apontar-se que o conceito original da divindade se referia ao deus da varíola, tal visão porém, nos parece uma evidente limitação. A varíola não seria a única doença sob seu controle - e sim todas as doenças, contagiosas ou não -, simplesmente pôr ser a epidemia mais devastadora e perigosa que conheciam os habitantes da comunidade original africana, onde surgiu Omolú-Obaluaê, o Daomé.
Assim, muito sérios e merecedores de muito respeito, como Iroco, Oxumaré (seus irmãos) e Nanã (sua Mãe), Omolú-Obaluaê é um Orixá da cultura Jejê, posteriormente assimilada pelos iorubás.
Enquanto os Orixás iorubanos são extrovertidos, de têmpera passional, alegres, humanos e cheios de pequenas falhas que os identificam com os seres humanas, a figuras daomeanas estão mais associadas a uma visão religiosa em que distanciamento entre deuses e seres humanos é maior. Quando há aproximação, há de se ter respeito, cuidado e pensamentos puros, evitando a atração de energias indesejáveis, pois os Orixás do Daomé são austeros no comportamento mitológico, exigentes e impõe grande respeito.
A visão de Omolú-Obaluaê é a da aplicação da Lei do retorno. Se um ser humano falta com ele ou um filho-de-santo seu é ameaçado, o Orixá pode responder com veemência e determinação, sendo difícil uma negociação ou um aplacar até que a demanda seja completada na aplicação da Lei Cármica.
Pierre Verger, nesse sentido, sustenta que a cultura do Daomé é muito mais antiga que a Iorubá, o que pode ser sentido em seus mitos: A antigüidade dos cultos de Omolú-Obaluaê e Nanã (Orixá ancestral feminino), freqüentemente confundidos em certas partes da África, é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhe eram feitos. Este ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro, indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum.
Como parte do respeito e temor dos iorubás, eles passaram a enxergar a divindade (Omolú-Obaluaê) mais sombria dos dominados como fonte de castigo divino, da ira dos deuses, entrando num processo que podemos chamar de malignação de um Orixá do povo subjugado, que não encontrava correspondente completo e exato (apesar da existência similar apenas de Ossâim). Omolú-Obaluaê seria o registro da passagem de doenças epidêmicas, castigos sociais, já que atacariam toda uma comunidade de cada vez.
Existe uma grande variedade de tipos de Omolú-Obaluaê, como acontece praticamente com todos os Orixás. Existem formas guerreiras e não guerreiras, de idades diferentes, etc., mas resumidos pelas duas configurações básicas do velho e do moço. A diversidade de nomes pode também nos levar a raciocinar que existem mitos semelhantes em diferentes grupos tribais da mesma região, justificando que o Orixá é também conhecido como Skapatá, Omolú Jagun, Quicongo, Sapatoi, Iximbó, Igui.
CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OMOLÚ-OBALUAÊ
O senhor da doença (e da cura) é relacionado um arquétipo psicológico derivado de sua postura na dança: se nela Omolú-Obaluaê esconde dos presentes suas chagas, não deixa de mostrar, pelos sofrimentos implícitos em sua postura, o fenômeno que lhe é peculiar. No comportamento do dia-a-dia, tal tendência se revela através de um caráter as vezes com viés masoquista, que pode ser superado através do equilíbrio interior.
Nota: Há também a interpretação de que o filá de Omolú (sua veste de palha da costa), em verdade não esconde suas 'chagas' e sim sua Luz, que é tão brilhante que tem o poder de cegar a pessoa que a mire diretamente. Por isso o Orixá usa a veste, para preservara visão física dos mortais de sua poderosa Luz.
Pierre Verger define os filhos de Omolú - que não estão em posse de suas faculdades espirituais e mentais plenas - como pessoas que são incapazes de se sentirem satisfeitas quando a vida corre tranqüila para elas. Podem até atingir situações materiais e rejeitar, um belo dia, todas essas vantagens por causa de certos escrúpulos imaginários. São pessoas que, em certos casos, se sentem capazes de se consagrar ao bem-estar dos outros, fazendo completa abstração de seus próprios interesses e necessidades vitais.
No Candomblé, como na Umbanda, tal interpretação pode ser demais restritiva. A marca mais forte de Omolú-Obaluaê não é a exibição de seu sofrimento, mas o convívio pacífico com ele na intenção de elevação e progresso moral.
Ele pode se manifestar numa tendência autopunitiva muito forte, que tanto pode revelar-se como uma grande capacidade de somação de problemas psicológicos (isto é, a transformação de traumas emocionais em doenças físicas reais), como numa elaboração de rígidos conceitos morais que afastam seus filhos-de-santo do cotidiano, das outras pessoas em geral e principalmente os prazeres.
Sua insatisfação básica, portanto, não se reservaria contra a vida em si, mas sim contra si próprio, uma vez que ele foi estigmatizado pela marca da 'doença', já seria em si uma punição. Por outro lado, vibrando positivamente, é sempre bom lembrar que ele também é o Orixá da cura.
Em outra forma de extravasar seu arquétipo, um filho do Orixá, menos negativista, pode apegar-se ao mundo material de forma sôfrega, como se todos estivessem perigosamente contra ele, como se todas as riquezas lhe fossem negadas, gerando um comportamento obsessivo em torno da necessidade de enriquecer e ascender socialmente. A compreensão deste arquétipo pode ajudar seus filhos e filhas no autoconhecimento e consequente superação das vibrações fortes que os guiam para a senda da evolução moral.
Mesmo assim, um certo toque do recolhimento e da autoestigmatização, dos filhos e filhas de Omolú-Obaluaê, serão visíveis em seus casamentos: não raro se apaixonam por figuras extrovertidas e sensuais - como a indomável Iansã, a envolvente Oxum, o atirado Ogum - que ocupam naturalmente o centro do palco, reservando ao cônjuge de Omolú-Obaluaê um papel mais discreto. Gostam de ver seu amado brilhar, mas devem tomar cuidado com a inveja e os ciúmes, para evitar viver sentindo insegurança, devem evitar julgar o próximo, fonte de paixão e interesse de todos.
Assim como Ossâim, as pessoas desse tipo são basicamente solitárias, introvertidas, curtem o isolamento e são anti-sociais. Mesmo tendo um grande círculo de amizades, freqüentando o mundo social, seu comportamento seria superficialmente aberto e intimamente fechado, mantendo um relacionamento superficial com o mundo e guardando sua intimidade ara si própria. Não raro são pessoas que julgam - o que deve ser evitado pois quem julga também pode ser julgado. Ter atenção para características detestáveis, como viver criticando, pode evitar que se torne motivo de vergonha.
O filho do Orixá oculta sua individualidade com uma máscara de austeridade, mantendo até uma aura de respeito e de imposição, de certo medo aos outros. Pela experiência inerente a um Orixá velho, são pessoas irônicas. Seus comentários porém não são prolixos e superficiais, mas secos e diretos, o que colabora para a imagem negativa que forma de si próprio.
Um último, mas importante detalhe; em diversas de suas lendas, o Orixá da doença é apresentado como uma divindade que perdeu uma perna. Isso se refletiria em seus filhos como um defeito congênito em uma das pernas ou a tendência a sofrer, durante sua vida, por um problema de relativa gravidade em seus membros inferiores, a partir de quedas ou desastres que podem ou não ser curados e superados."
Saudação: Atotô Obaluaê! Atotô Babá!
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Fonte: texto editado com objetivo de estudos e melhor compreensão do Orixá Omolú/Obaluaê - o qual não devemos temer e sim amar e respeitar - através de informações extraídas da leitura de: '
O Livro Da Nação Espírita, por Luís Antonio Modesto' - Para mais obras a respeito do Orixá seu Obaluaê, Omulu, Xapanã,
visite este link - Imagem: pintura de Omolú, por Luís Antonio Modesto (rep produção do livro linkado acima) Adaptação:
Ronald 𓂀