A Última Lição do Sr. Sanson (conto espírita)
Naquela tarde silenciosa de abril, as cortinas estavam semiabertas, permitindo que a luz suave do entardecer banhasse o aposento com tons dourados. O Sr. Sanson, deitado em repouso sereno, já pressentia o momento da travessia. Não havia dor em seu semblante, tampouco temor em sua alma. Apenas um silêncio que sussurrava paz.
Com o olhar voltado para o alto, ele sorriu, como quem reconhece ao longe um amigo querido. Sentia que o véu entre os mundos já se tornava tênue — como se os dois planos estivessem prestes a se tocar.
Ao seu lado, repousava uma carta já selada, endereçada ao presidente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Era um pedido raro: que, após sua partida, fosse evocado para relatar, passo a passo, a experiência da morte. A curiosidade não era vaidade, mas serviço. Ele desejava ensinar, mesmo do outro lado da vida.
Dois dias depois, ali mesmo na câmara mortuária, Allan Kardec e alguns confrades estabeleceram comunicação com o Espírito do amigo. Ele viera — lúcido, sereno, com a mesma voz interior de quem nunca partira de fato. Descreveu sensações leves, visões sutis, e uma alegria difícil de traduzir. Não houve dor. Houve reencontro. Não houve vazio. Houve plenitude.
— “Senti como se tivesse me libertado de um casulo apertado… e reencontrado o céu da infância”, disse Sanson, entre os suspiros emocionados dos presentes.
Mas o que o tornara tão feliz? Por que, entre tantos, ele atravessara o umbral com tamanha lucidez e júbilo?
Ele mesmo respondeu:
— “Fiz da caridade minha estrada e da abnegação, meu abrigo. Não temia a morte, porque vivi de forma que minha consciência pudesse repousar em paz. Os bens materiais, tratei como ferramentas, não como donos. E a fé… ah, a fé… essa foi minha luz nas horas de sombra.”
O relato emocionou a todos. Não era um santo, tampouco um espírito elevado entre os maiores. Era apenas um homem comum… que escolhera, com humildade, viver de forma extraordinária. Ao final, Kardec disse, com os olhos marejados:
— “Um justo morreu. Mas ao mesmo tempo, nasceu para a verdadeira vida.”
No plano espiritual, os sinos não dobraram de luto. Tocaram de esperança. E, entre Espíritos amigos, alguém o recebeu com um abraço e disse: “Bem-vindo de volta, irmão.”


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