Como um bom irmão, em prece, numa tarde serena de junho, revelo este conto, retirado de trás das cortinas da realidade, inspirado pela figura luminosa de São Thomas More
Na bruma dourada de um entardecer no mundo espiritual, sob as colinas suaves de um jardim que parecia ter sido sonhado por almas em paz, um homem caminhava com passos serenos. Tinha os olhos brilhantes de quem conheceu o peso da cruz, mas também o perfume da ressurreição. Vestia-se com simplicidade, uma túnica de tecido leve e antigo, e em seu rosto morava um sorriso que sabia de eternidades.
Chamava-se Thomas, e ali era chamado de Irmão More — pois no Alto os títulos ficam nas sombras do tempo, e só o amor permanece nome.
A cada passo que dava naquele jardim, flores se abriam. Não flores comuns, mas espécies delicadas que carregavam as cores do perdão, da renúncia e da verdade. O jardim era conhecido por muitos Espíritos como “O Recanto da Utopia” — não porque fosse irreal, mas porque abrigava a lembrança viva de um homem que, em vida, ousou sonhar com um mundo mais justo, mesmo entre as engrenagens do poder.
Irmão More dedicava-se, agora, à tarefa de acolher Espíritos recém-libertos da prisão do fanatismo, do orgulho intelectual ou das dores causadas pela intransigência religiosa. A eles, não impunha verdades. Oferecia histórias. Sentava-se em silêncio e, como um velho amigo, contava parábolas simples sobre seu tempo na Terra: da sua paixão pelos livros, da doçura com os filhos, da alegria das conversas, e até dos dias sombrios da prisão.
— “A cela era fria — dizia com voz mansa — mas o Cristo era calor. Eu lia o Evangelho e sentia que não estava só. Quando me tiraram a liberdade, ganhei o recolhimento. Quando perdi os títulos, vesti o manto da verdade. E no instante em que a espada me tocou, o Reino de Deus me abraçou.”
Muitos choravam ao ouvir-lhe a alma. Não por pena, mas por se reconhecerem: padres endurecidos pela vaidade, pastores marcados por julgamentos, estudiosos embriagados de razão e descrença... todos encontravam em More a ponte para o recomeço.
Um dia, aproximou-se dele um Espírito revoltado, recém-desencarnado, que fora juiz na Terra. Tremia de angústia, porque descobrira os erros que havia cometido em nome da lei dos homens.
— “Você morreu por resistir a um rei. Eu apenas cedi. Por que você sorri, e eu me afundo?”
More o olhou com infinita compaixão e respondeu:
— “Irmão... eu não morri por resistir a um rei. Eu renasci por permanecer fiel ao Reino de Deus. A questão não é o que enfrentamos, mas como escolhemos amar. Está em suas mãos fazer nova justiça, agora com o coração.”
E então, o jardim floresceu mais uma vez.
- Prece de Thomas More aos irmãos da Terra
Inspirada por suas palavras eternas e adaptada à vibração da Doutrina Espírita
Senhor das Almas e das Consciências,
Em meio às tormentas do mundo, fazei de mim um espírito alegre e firme,
Capaz de sorrir mesmo diante das dores,
Capaz de servir mesmo sob os grilhões da incompreensão.
Dai-me, Senhor, a coragem de seguir-Vos,
Ainda que o mundo me acene com atalhos e coroas.
Que eu me mantenha fiel à Tua verdade —
não a que se impõe, mas a que se doa.
Se me for concedido um cargo ou uma missão,
Que minha autoridade seja temperada pela humildade,
E minha palavra seja sempre caminho de reconciliação.
Quando a solidão me visitar,
Que eu a receba como retiro.
Quando a injustiça me alcançar,
Que eu a transforme em testemunho.
Senhor, que minha consciência seja meu templo,
E que o Espírito de verdade seja o altar onde deposito
Minhas escolhas, meus silêncios e minha fé.
E quando minha hora chegar,
Que eu possa, como outrora, sorrir com esperança,
E dizer com o coração tranquilo:
“Sirvo a Deus primeiro, e aos homens com amor.”
Que assim seja.


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