"Senhor Jesus!
Enquanto nossos irmãos na Terra se consagram hoje à lembrança dos mortos-vivos que se desenfaixaram da carne, oramos também pelos vivos-mortos que ainda se ajustam à teia física…
Pelos que jazem sepultados em palácios silenciosos, fugindo ao trabalho, como quem se cadaveriza, pouco a pouco, para o sepulcro;
pelos que se enrijeceram gradativamente na autoridade convencional, adornando a própria inutilidade com títulos preciosos, à feição de belos epitáfios inúteis;
pelos que anestesiaram a consciência no vício, transformando as alegrias desvairadas do mundo em portões escancarados para a longa descida às trevas;
pelos que enterraram a própria mente nos cofres da sovinice, enclausurando a existência numa cova de ouro;
pelos que paralisaram a circulação do próprio sangue, nos excessos da mesa;
pelos que se mumificaram no féretro da preguiça, receando as cruzes redentoras e as calúnias honrosas; pelos que se imobilizaram no paraíso doméstico, enquistando-se no egoísmo entorpecente, como desmemoriados, descansando no espaço estreito do esquife…
E rogamos-te ainda, Senhor, pelos mortos das penitenciárias que ouviram as sugestões do crime e clamam agora na dor do arrependimento;
pelos mortos dos hospitais e dos manicômios, que gemem, relegados à solidão, na noite da enfermidade; pelos mortos de desânimo, que se renderam, na luta, às punhaladas da ingratidão;
pelos mortos de desespero, que caíram em suicídio moral, por desertores da renúncia e da paciência;
pelos mortos de saudade, que lamentam a falta dos seres pelos quais dariam a própria vida;
e por esses outros mortos, desconhecidos e pequeninos, que são as crianças entregues à via pública, exterminadas na vala do esquecimento…
Por todos esses nossos irmãos, não ignoramos que choras também como choraste sobre Lázaro morto…
E trazendo igualmente hoje a cada um deles a flor da esperança e o lume da oração, sabemos que o teu amor infinito clarear-nos-á o vale da morte, ensinando-nos o caminho da eterna ressurreição."
Medite a respeito da questão n.° 823 de 'O Livro dos Espíritos':
"823. Donde nasce o desejo que o homem sente de perpetuar sua memória por meio de monumentos fúnebres?
'Último ato de orgulho.'
a — Mas a suntuosidade dos monumentos fúnebres não é antes devida, as mais das vezes, aos parentes do defunto, que lhe querem honrar a memória, do que ao próprio defunto?
'Orgulho dos parentes, desejosos de se glorificarem a si mesmos. Oh! sim, nem sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações. Elas são feitas por amor-próprio e para o mundo, bem como por ostentação de riqueza. Supões, porventura, que a lembrança de um ser querido dure menos no coração do pobre, que não lhe pode colocar sobre o túmulo senão uma singela flor? Supões que o mármore salva do esquecimento aquele que na Terra foi inútil?'"
Citação parcial para estudo, de acordo com o artigo 46, item III, da Lei de Direitos Autorais. Esta oração foi transcrita do livro 'Religião dos Espíritos', de Francisco Cândido Xavier (encarnado) e Emmanuel (espírito). Para adquirir o livro e ler na íntegra siga o link abaixo...
Vivos e Mortos
ResponderExcluir"Você meu caro Antonino,
Pergunta com seus cuidados
Por que se faz tão difícil
Ouvir os mortos amados.
E acentua: — “Sempre tive
Muitos amigos no Além
Entretanto, peço, peço…
Chamo e não vejo ninguém.
“Que dizer Cornélio amigo,
Desta busca inacabada?
Faço preces, grito nomes,
Depois… é silêncio e nada…”
Entendo prezado amigo,
Toda a sua inquietação,
Mas ouça: somos quais somos
E as cousas são como são!…
Tudo espera tempo próprio
Onde o melhor se processa…
A verdade surge aos poucos
Sem ocupar-se da pressa.
Atendendo à luta humana,
Que dá tanto que pensar
O homem, ao pé da morte,
Raciocina devagar.
Por outro lado, as ideias,
Que a Terra criou no caso,
Nas portas do grande assunto
Despejou montões de atraso.
No mundo, lembra-se a morte,
E temos pessoas pasmas,
Falando em luto, agonia,
Cinzas, pedras e fantasmas!…
Isso cria tanto entrave,
Tanta sombra e tanta trica,
Que os vivos do Além não acham
ligação com quem fica.
Basta que um morto qualquer
Dê sinal ou reapareça
E alongam-se fantasias
Tisnando muita cabeça.
Recorde: Joana, a viúva
Do Marciano Toledo
Chamava o esposo e ele vindo
A moça tombou de medo.
Tonho quis ver o irmão morto
E ao tê-lo junto de si,
Gritou e caiu de susto
Na estrada de Mandaqui.
Desejou ver o pai morto
O nosso amigo Aristeu,
Um dia, o rapaz, ao vê-lo,
Desmaiou e adoeceu.
Após a morte do tio
Totó buscava encontrá-lo,
Notando o tio na roca
Totó caiu do cavalo.
Marina chamava o esposo,
O falecido Teotônio,
Vendo o marido, a mulher
Dizia que era o demônio.
Júlia pedia ao marido
Auxílio num grande apuro,
O finado apareceu
Ela rezou no esconjuro.
Sabino encontrou em prece
Um irmão já desencarnado,
Gritou, chorou… Depois disse
Que estivera alucinado.
Perdeu Silvino a mulher…
Quis vê-la, a Dona Ceição,
Tendo a esposa junto dele
Clamou que era assombração.
Zelão contou haver visto
A noiva desencarnada…
Chorou, mas disse, em seguida,
Que era tudo patacoada.
Chamava o esposo, a Cecília,
Mulher do Janjão Salerno,
Vendo o finado, a viúva
Mandou Janjão para o inferno.
Doca chamava o pai morto
Em frases de imenso amor…
Quando o pai voltou a ela,
Falou que era obsessor.
Ante os problemas da morte
São muitos tropeços juntos,
E a verdade pede ao tempo
Que lhe prepare os assuntos…
Não se agaste, caro irmão,
O mundo é um contraste em si:
Os vivos buscando os mortos
E os mortos andando aí!…"
Francisco Cândido Xavier e Cornélio Pires
in 'Conversa Firme' - Lição: 20