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sábado, 6 de novembro de 2021

Swami Atulananda: 'Como Viver em Maya'

Swami Atulananda (1870/1966)

Swami Atulananda (imagem acima), era um holandês que vivia nos Himalayas. Ele escreveu esta carta a uma senhora americana:

 

"A vida é um mistério; não estamos certos de nada, não podemos prever nada, estamos quase sempre errados ao julgarmos os outros, não podemos acreditar em nada – nem mesmo em nossos sentidos – não podemos desacreditar em nada. Maya de fato! 

Mas há um caminho de saída, que leva para fora de Maya. Esse é nosso consolo. Olho a vida de um modo mais impessoal. Os erros dos outros não me angustiam em absoluto.

Alguns de nossos swamis são santos, outros tiveram de ser expulsos da Missão Ramakrishna. Tudo é igualmente interessante, tudo é fonte de estudo, tudo é o jogo da Mãe Divina. Ninguém para se louvar, ninguém para se criticar – todos são filhos da Mãe. Um passo correto, um passo falso – tudo é parte do jogo. 

É por isso que me divirto quando você esconde coisas, quando quer proteger a reputação das pessoas. Eu nem acredito, nem desacredito. Vejo e ouço, e tudo já se foi. Deixo os outros formarem opiniões, julgar, criticar. Para mim a vida é um filme. Veja e esqueça. Não feche os olhos, não tome partido.

O que quero agora é ser capaz de me incluir no jogo, ser uma mera testemunha de mim mesmo também – na dor, no prazer, na saúde e na doença, nas boas ações e nas más ações. E sei que não sou nada disso – sou livre, o Atman. Todos são livres, o Atman.

O que vemos são os atores representando – hoje mendigo, amanhã rei, hoje pecador, amanhã santo. É sempre a mesma pessoa representando diferentes papeis. Portanto é difícil chocar-me ou fazer-me sentir diferente com relação a outras pessoas, mesmo se cometeram um erro.

Veja M. por exemplo. Estou convencido de que ele representa o papel de uma criatura irresponsável. Então me protejo. Mas meus sentimentos para com ele não mudam. Eu o recebo quando vem, como antes. Se você me perguntar se posso confiar nele, digo: seja cuidadosa. Ele pode enganá-la. Mas isso não significa que lhe desejo o mal. Apenas sei que se emprestar-lhe algum dinheiro, há uma boa chance de não ver mais o dinheiro. Mas se poupar algum, posso dar a ele. Por que não? Deixe-o divertir-se, ter sua experiência. Filho da Mãe, jogo da Mãe.

Fico contente de encontrar todo tipo de gente, os maus e os bons. Deixe o jogo continuar. Turiyananda certa vez me disse que leu no Mahabharata que Krishna, ao desenhar sua capital, reservou uma parte da cidade para as prostitutas viverem. E ele ficou horrorizado. Por que Krishna permitiu prostitutas em sua cidade ideal?

Mais tarde, ele entendeu. Elas também têm o direito de viver, têm de ocupar seu lugar no jogo, representar seu papel na peça teatral. Sem elas, a peça não seria completa. Deixe cada um escolher seu próprio papel; e que ele o represente bem. E quando escolher mudar sua parte, tudo bem: outros tomarão seu lugar. Cada papel traz seus próprios resultados, cada papel tem seu próprio pagamento.

Nenhum swami afirma ser perfeito. Muitos dizem, 'Apenas pela graça da Mãe Divina não sou pior do que sou.' Isto é sabedoria, conhecimento da vida. Mas apenas as almas velhas e experientes sabem disso.

Por que as pessoas se sentem atraídas por um patife e fogem dum santo? Porque o patife é sincero; e uma pessoa toda santificada é um mito. Se ela é considerada perfeita por seus amigos e protetores, sabemos que estamos sendo enganados.

Swami Vivekananda não se importava se uma pessoa era boa ou má, mas odiava pessoas dissimuladas. Certa vez realizei que somos todos Atman, almas, e que nossas individualidades terrenas são apenas reflexos das almas. E veio-me o conhecimento de que esta vida é irreal, e que somos tolos em leva-la a sério, odiar, invejar e disputar, etc. Vi que é tudo loucura, pois na realidade somos todos iguais, Espíritos, bem-aventurados, além do amor e do ódio, todos igualmente livres, perfeitos, além de todos os desejos.

Pense como a vida seria para mim um paraíso, se eu conseguisse reter aquela consciência. Teria havido apenas amor, amor por todos e por tudo. Nenhum mal, nenhum bem, a vida apenas um jogo de sombra para desfrutar, se a percebermos como tal.

Sou a alma, sou imortal; a vida é minha própria sombra neste mundo de Maya. Esta é a verdade e esta é minha religião, a única coisa da religião de que estou certo. Tenho tido momentos em que você poderia cortar meu corpo em pedaços, e ainda assim eu estaria rindo. Eu estaria sendo uma testemunha, desapegado do corpo, desfrutando do jogo. E agora, quando tenho uma dor de dente ou uma dor de cabeça, fico perdido. Este mundo se tornou real novamente.

Mesmo assim, sei que esse mundo é relativo, enquanto que o Espírito-Realidade é absoluto. A religião significa apenas a tentativa de conseguir a consciência do Espírito e retê-la. Tudo o mais na religião é um disparate, ou como Swami Vivekananda diz, 'uma verdade menor'."


Swami Atulananda







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