"O termo progressista, é apropriado e oportuno, na carta de apresentação do Espiritismo ao nosso tempo, para figurar como proposta que satisfaz a exigência de combinar o progresso moral e o progresso material, com o cultivo de sentimentos e a educação do pensamento, a fim de promover uma espiritualidade livre e aberta combinada com uma racionalidade criativa e sem preconceitos.
Nestes primeiros anos do século XXI constata-se que em certos setores do movimento espírita internacional o termo “progressista” tem sido usado com notável frequência, adicionando este adjetivo ao Espiritismo. E registramos isso com especial complacência porque essa disposição sempre nos acompanhou em nossa forma de entender o perfil filosófico, sociológico e ético da doutrina kardecista.
Não há dúvida de que a noção de progresso, tanto na ordem espiritual quanto na material, permeia a totalidade dos textos básicos que deram origem ao Espiritismo, seja nos conceitos expressos por Allan Kardec ou nas mensagens transmitidas pelos Espíritos. A compreensão de Deus e do Universo, do Espírito e da matéria, da evolução geral, da vida e do ser humano, da formação das sociedades, bem como a confiança no progresso incessante, é o que dá sentido e significado à existência e à própria evolução, e ao inevitável impulso de alcançar estágios mais adiantados na conquista dos passos sucessivos e superiores, no caminho infinito de aperfeiçoamento.
A Lei do Progresso foi apresentada por Kardec em “O livro dos Espíritos”, como uma das referências essenciais dentro do reino da evolução universal. Aplicado especificamente ao homem, afirma que ele progride sem cessar, sem qualquer possibilidade de retrocesso, e que a crença de que pode haver regressão é aparente, um erro de perspectiva, uma vez que observando-se o todo, sempre se constatam os avanços.
No desenvolvimento deste importante tema, Kardec considera essencial fazer a distinção entre o progresso intelectual e o progresso moral, reconhecendo que ambos dão apoio um ao outro, embora nem sempre marchem juntos, o que deve ser sempre levado em conta na avaliação das diversas formas adotadas pelos comportamentos dos indivíduos e das sociedades. Para o fundador do Espiritismo não havia nenhuma dúvida: sem negligenciar o elemento intelectual, o que dá o tom dos verdadeiros avanços é o componente moral, tanto que é ele que condiciona o escopo do progresso social da humanidade como um todo.
Não poderia, pois, um sistema de pensamento como o Espiritismo, que tem o progresso como uma de suas coordenadas determinantes, deixar de se identificar como uma opção progressista, uma qualificação construída etimologicamente a partir do termo progresso, que lhe serve como raiz e que denota, em um sentido geral, tudo o que avança ou que favorece o progresso.
Falar de Espiritismo progressista equivale dizer que o kardecismo se assume como uma concepção dinâmica, atual, avançada, aberta aos adiantamentos do conhecimento geral, disposta ao diálogo intercultural, sensível às necessidades materiais e espirituais dos seres humanos, e jamais como uma concepção estática, conservadora, imóvel, fatalista, mística, fechada na crença de ser ele o depositário de verdades completas ou definitivas, alienadas, portanto, da própria noção de progresso eterno.
Assim, o termo progressista, é apropriado e oportuno, na carta de apresentação do Espiritismo ao nosso tempo, para figurar como proposta que satisfaz a exigência de combinar o progresso moral e o progresso material, com o cultivo de sentimentos e a educação do pensamento, a fim de promover uma espiritualidade livre e aberta combinada com uma racionalidade criativa e sem preconceitos.
Um aviso, no entanto, é essencial. É conveniente dissociar o uso do vocábulo progressivo aplicado ao Espiritismo, de qualquer viés de natureza ideológica que possa gerar confusão, especialmente com o uso dado ao termo por certas correntes políticas ou partidárias contemporâneas, e que resulta comumente em manipulações sectárias e distorcidas. E isso deve ser muito claro. Em sua autêntica visão filosófica, sociológica e ética, o Espiritismo é progressivo porque sua razão de ser é alimentada por uma disposição natural para promover o progresso moral e intelectual dos indivíduos e da sociedade como um todo, animado pela convicção esperançosa e otimista de que o caminho evolutivo da espécie humana, impulsionado pela força transcendente do Espírito, aponta inexoravelmente para um mundo melhor, mais livre, justo, igualitário, fraterno e amoroso.
Um Espiritismo progressista corresponde plenamente ao que Kardec certa feita chamou de Espiritismo humanitário; ou ao Espiritismo dialético que Manuel Porteiro tanto defendeu; ele, igualmente, está em perfeita harmonia com a caracterização do laico, livre pensador, racional, humanista, plural, progressivo, – sem nunca esquecer de seu caráter genuinamente kardecista – que identifica parcelas amplas e variadas do movimento espírita contemporâneo, que podemos abrigar sob o guarda-chuva comum de um Espiritismo avançado ou Espiritismo de vanguarda."
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