Representação artística de Chico Xavier recebendo uma psicografia de Emmanuel |
As visões mais ortodoxas da teologia católica, tendem mesmo a entender o espiritismo enquanto uma forma de necromancia, e por isso uma pratica espiritual proibida. Contudo, a doutrina "espírita" tende a defender que, ao contrário, esse fenómeno é um instrumento perfeitamente normal de comunicação com o mundo dos mortos, ou o mundo dos espíritos.
O fenômeno descrito e defendido pelas doutrinas espíritas, não é contudo original, mas antes é imensamente antigo e remonta aos primórdios da história da espiritualidade humana.
Na antiguidade egípcia, os faraós eram tidos como alguém em cujo o corpo habitava o espírito de um Deus.
Nos primórdios da religião hebraica, os sacerdotes masculinos e femininos da Deusa Aserá, - na altura tida como a consorte do Deus Javé -, eram tidos como pessoas passíveis de serem "invadidos" pelo espírito da Deusa.
Na Europa, as bruxas e os bruxos, (sacerdotes da religiões pagãs), eram igualmente considerados como pessoas detentoras da capacidade de receber no seu corpo o divino espírito da Deusa e do Deus.
Nas religiões de origem africana, é perfeitamente comum que no decorrer de certas cerimónias, espíritos ancestrais e poderosos incorporem no corpo de uma sacerdote ou sacerdotisa, ou ate mesmo no corpo de um dos fiéis.
Na própria Bíblia, é registado o facto do rei Saul ter sido atormentado por um espírito mau que Deus lhe enviava, (I Samuel 16, 23), ao mesmo tempo que também é descrito como espíritos de Deus podem "entrar" temporariamente numa pessoa, falando através dela e assim levando-a a profetizar (2 Crônicas 24, 19-20). É mesmo descrito a forma como um espírito enviado por Deus podia fortemente apoderar de um corpo (Ezequiel 3, 24).
Os evangelhos, descrevem igualmente como após a morte e ressurreição de Jesus, um espírito se apoderou dos apóstolos, permitindo que eles passassem a falar línguas que desconheciam, algo que mais tarde, - e inexplicavelmente -, a teologia católica veio a conotar com fenómenos de possessão demoníaca.
Contudo, em certos pensamentos e sistemas religiosos, - como o Hindu -, ser possuído esta imensamente longe de ser um fenómeno demoníaco, mas é antes condiderado enquanto um fenómeno divino. Como afirma a autora Rosemary Ellen Guiley:
"Ser possuído, - nessas religiões -, significa que um Deus encontrou alguém digno de receber o seu Espírito"
É por isso claro que o processo através do qual um espírito "entra" num corpo de uma pessoa viva para contactar com este mundo físico, é um fenómeno espiritualmente universal, que toca transversalmente imensas culturas pelo mundo, e que é visto de formas diametralmente opostas conforme a raiz cultural e antropológica onde ocorre.
Os exemplos de "possessão" temporária de um corpo por parte de um espírito, ou mesmo relatos de espíritos que coabitam e residem num corpo humano, são inúmeros e encontram-se documentados na maioria dos textos sagrados.
A doutrina espírita genericamente professa que esse fenômeno de "possessão" é na verdade de um processo de "incorporação", ou seja, uma ocorrência perfeitamente natural e através do qual um espírito pode temporariamente ocupar, - parcial ou totalmente -, o corpo de um "médium", a fim de comunicar com este mundo.
Normalmente, o espiritismo professa que nem todos possuem evolução espiritual ou uma sensibilidade suficientemente apurada para conseguir ser receptores dos Espíritos. Àquelas pessoas com essa capacidade e evolução espiritual, chamam-se "médiuns" ou "videntes".
No espiritismo, é igualmente professado que a comunicação com os Espíritos pode ocorrer de duas formas, ou seja, os espíritos, podem incorporar-se numa pessoa de forma total ou parcial.
Se a incorporação ocorre de forma total, a pessoa "ocupada" pelo espírito perde a consciência durante a "possessão", sendo que não terá memórias sobre o sucedido, nem terá qualquer controlo sob o seu corpo enquanto decorre o processo espiritual.
Se a incorporação ocorre parcialmente, a pessoa fica consciente e aperceber-se-á de tudo aquilo que o espírito comunicar, e pode mesmo em certos casos intervir minimamente no diálogo.
"Channeling", é o termo normalmente usa para definir o processo de invocação de espíritos, assim como o consequente fenómeno incorporatório e de dialogo dos espíritos com este mundo através de um médium.
O termo "espiritismo" foi criado por Hipplyte Leon D. Rivail, mais conhecido pelo seu mundialmente famoso pseudónimo, ou seja: Allan Kardec.
O termo "espiritismo", visa representar o conjunto de estudos, sistematizações e crenças espirituais professadas por Allan Kardec, conforme expressadas na sua vasta obra literária.
O pensamento filosófico e religioso de Allan Kardec, - que hoje em dia é um dos pilares fundamentais de imensos movimentos religiosos de natureza espírita -, é imensamente complexo, contudo podemos afirmar que consiste em 9 pontos fundamentais:
I. O ser humano é constituído por um corpo material aliado a um espírito.
II. O corpo físico é mortal, contudo o espírito é imortal
III. O fenómeno da vida, seja ela física ou espiritual, não é exclusivo do planeta terra, sendo que ocorre por todo o universo e é parte da grande Criação de Deus.
IV. Jesus, era um ser espiritual imensamente evoluído, que atingiu as metas da virtude e da bondade, emanando luz e iluminação para o mundo. Jesus foi por isso, o "Espírito mais perfeito que Deus ofereceu aos homens para servir-lhes de modelo e guia".
V. O corpo físico é um receptáculo do espírito, que através de um processo de reencarnações, vem a este mundo a fim de realizar um aprendizagem espiritual.
VI. O objetivo deste processo de reencarnações, é a evolução espiritual até que seja alcançada a plenitude do ser espiritual. O ciclo de reencarnações e aperfeiçoamento visa atingir a virtude e o bem, um estado celestial de luz e iluminação.
VII. A alma, é o espírito enquanto ligado a um corpo físico.
VIII. O espírito encontra-se ligado ao corpo físico na forma de um invólucro denominado perispírito, sendo que esse é muitas vezes observado e chamado de "fantasma".
IX. Os espíritos desencarnados, - comumente conhecidos por "espíritos dos mortos" -, e os espíritos encarnados, - vulgarmente conhecidos pelos "vivos" -, podem comunicar-se através do processo denominado "channeling", ou em português: "mediunidade".
Leia "O Evangelho segundo o Espiritismo" e faça dele seu livro de cabeceira!
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Fontes Bibliográficas: Bíblia Sagrada, Edição Pastoral da Pia sociedade de São Paulo – Brasil, subscrita pelo Secretario da Conferencia Episcopal Portuguesa; Guia (…) sobre fantasmas e o sobrenatural, by Dunwich, Gerina – Portal astrologia e esoterismo
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