Tem planta que não vinga aqui no sítio. Você pode fazer de tudo,mas não vão adiante. Louro, alecrim, café e arruda são algumas delas. Não sei exatamente o porquê, mas já tentamos de tudo. Em compensação pimenta ,boldo, hortelã, pitangueira e carqueja é só piscar que nascem aos montes. A natureza é cheia de mistérios, que os que são da terra os resolvem rapidamente.
Na Umbanda, que trata da manipulação das energias naturais, não há como negar a grande força e sabedoria dos pretos. A palavra certa, o conselho certeiro, a manipulação rápida da energia são fatos concretos que observamos numa primeira impressão. Em nossas mentes, como falei no post anterior, associamos as pretas a doceiras, mas há mais uma característica unida à imagem delas: as benzedeiras. Por sua vez, se formos pensar nas benzedeiras a erva que é indissociável é a arruda.
Poucos sabem, mas a Arruda é originária da Ásia. Na Grécia antiga, ela era usada para tratar diversas enfermidades, mas seu ponto forte era mesmo contra as forças do mal. As mulheres romanas costumavam andar pelas ruas sempre carregando um ramo de arruda na mão, pois diziam que era para se defenderem contra doenças contagiosas mas, principalmente, para afastar todos os males que iam além do corpo físico.William Shakespeare, na obra Hamlet, se refere à arruda como sendo "a erva sagrada dos domingos".
Dizem que ela passou a ser chamada assim, porque nos rituais de exorcismo, realizados aos domingos, costumava-se fazer um preparado à base de vinho e arruda que era ingerido pelos "possessos" antes de serem exorcizados pelos padres.No século XVI deu origem a uma estória curiosa: quando morriam em Londres 7.000 pessoas por semana com a peste, e as casas atingidas eram marcadas com uma cruz vermelha, alguns ladrões não se incomodavam e entravam para roubar e não eram atingidos pela peste.
O motivo: um famoso vinagre, dos quais um dos principais componentes é a arruda, num galão de vinagre de vinho junto com a sálvia, losna, menta, alecrim e lavanda, temperadas com alho, cânfora, noz moscada, cravo e canela, constituindo um poderoso anti-séptico. Essa mistura ficou conhecida como vinagre dos quatro ladrões. Já Michelangelo e Leonardo da Vinci, afirmaram que foi graças aos poderes metafísicos da arruda que ambos tiveram sensíveis melhoras em seus trabalhos de criatividade.
No Brasil pós-escravidão a Arruda era vendida nas ruas pelas ex-escravas, embora antes já o fizessem como mostra a gravura que postei aqui de Debret. No Boletim da Comissão Catarinense de Folclore, num texto de Carlos da Costa Pereira encontramos o seguinte: "Para afugentar os sortilégios, as negras costumavam trazê-la "nas pregas dos turbantes, nos cabelos, atrás da orelha e mesmo nas ventas", e as brancas usavam-na em geral escondida no seio". Acrescenta que quando as negras, vendedoras de frutas, encontravam uma concorrente tida por inimiga, costumavam exclamar: 'Cruz, Ave Maria, arruda', colocando subitamente os dois dedos index sobre a boca", e para se acautelarem "de um perigo iminente, elas diziam: 'toma arruda, ela corrige tudo'".
Nas Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida , deparam-se-nos duas referências ao uso da arruda na época em que se situam as cenas do romance. A primeira, quando o autor descreve o "traje habitual" da comadre, que "era como o de todas as mulheres da sua condição e esfera, uma saia lila preta, que se vestia sobre um vestido qualquer, um lenço branco muito teso e engomado ao pescoço, outro na cabeça, um rosário pendurado no cós da saia, um raminho de arruda atrás da orelha, tudo isto coberto por uma clássica mantilha, junto à renda da qual se pregava uma figa de ouro ou de osso".
E a outra, quando narra os preparativos feitos para o momento em que a Chiquinha daria à luz, sendo improvisado "um oratório com uma toalha, um copo com arruda e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição..."A arruda também entrou na poesia popular brasileira, tendo Carlos Góis registrado as seguintes quadras — colhidas em Minas Gerais, a primeira, e no Ceará, a segunda — em que se fazem alusão a essa planta:
Arruda tem vinte folhas,
No meio seu arrodeio;
Trata de mim que sou teu,
Deixa de amores alheios.
Arruda também se muda
Do sertão para o deserto
Também se ama de longe
Quem não pode amar de perto.
Aliás, estes versos atestam não só a popularidade como a adaptabilidade a regiões indiscriminadas, da planta que, pelas suas pretensas virtudes, os portugueses trouxeram para os seus domínios neste lado do Atlântico".
Arruda serve para quase tudo. No meu entender a mistura da energia de qualquer erva em especial com a linha dos Pretos, que fundamenta a Umbanda, potencializa não só a energia que está sendo manipulada, mas nos envolve de forma carinhosa na sabedoria e no alento da certeza de crescimento. Não somos nós que ajudamos os pretos e pretas a andarem no terreiro, são eles que nos calçam os pés na bondade e no amor, na alegria de viver, para que nossos pés possam pisar firmes em direção a verdadeira caridade - esta sim o grande mistério da humildade destas almas.
Neste texto me baseei no estudo feito na Faculdade Integrada Espírita, aqui de Curitiba, por Ana Lúcia Trinquinato Toriani e Lourenço de Oliveira http://www.esalq.usp.br/siesalq/pm/monografia_ruta_graveolens.pdf
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