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terça-feira, 12 de maio de 2009

Exploração da pobreza e da ignorância, os caminhos da morte

Crítica:
Fiquei abismado quando conferi o blog de Edir Macedo, dirigente da 'Igreja Universal'. Na postagem do 7 de maio passado, o bispo mostra uma fotomontagem que diz ter recebido de um fiel; na apresentação de imagens aparecem cenas fortes, que teriam sido captadas na Índia. O título da postagem é: 'Caminhos da Morte', fazendo uma triste e clara alusão ao folhetim 'Caminho das Índias'. Já no primeiro quadro de imagens aparece a frase: 'A Índia que a TV Global não vai mostrar'. As fotos são chocantes, nojentas mesmo; mostram ruas cheias de lixo, muita miséria, gado comendo lixo e vários corpos em decomposição. Isso como se aqui mesmo em nosso país não existissem favelas e miséria equiparável.

A Índia, como o Brasil tem suas belezas também. Por quê mostrar este lado lúgubre? Será que na Índia também não circulam imagens com corpos mutilados por traficantes e milicianos aqui na América Latina? E os 'microondas' no alto dos morros, também não queimam gente? Claro que a Globo mostra as belezas da terra de Buda e não suas misérias. A novela não quer chocar mas entreter. A nós bastam as misérias que vemos em nossas ruas quando saimos de casa ou ligamos a TV na hora do jornal. O que realmente existe é pobreza, na Índia e em outros países. Com certeza as águas do Ganges não são potáveis, mas a do Rio Pinheiros são? Nós enterramos nossos mortos, ao passo que eles os incineram a céu aberto, quem já não viu um defunto ou ossada a céu aberto dentro do cemitério?

O problema de 'saúde pública', ao qual atentam as imagens exibidas no blog do bispo Macedo, parece graves, mas vivsivelmente estão atrelados a ignorância e a miséria; mesmos fatores que atravancam o desenvolvimento aqui em nosso país. 'Caminho das Índias' é um produto de entretenimento, o caminho antagônico é o da intolerância e exploração da ignorância. Tudo deixa de ser alegre, como na Índia mostrada pela líder de audiência, e passa a estar triste, com o julgamento impreciso que alguns fazem de culturas estrangeiras.

Na era em que vivemos toda informação é compartilhada, cabe as pessoas de bem fazerem bom uso delas. Que proveito há em atirar pedras no telhado do vizinho? Os conflitos internacionais que persistem neste mundo globalizado são derivados, em sua maioria, da intolerância religiosa, do preconceito contra qualquer espécie ou género humano. Temos que cuidar é para que costumes e dogmas ultrapassados não nos desviem da senda do progresso. Vivemos numa aldeia global, conectada na qual, com certeza, num futuro próximo, a ignorância irá se dissipar. Neste dia o gado deixará de comer lixo e se alimentará de relva fresca, beberá água pura.

Tentar denegrir a imagem de um país e de uma cultura, na desesperada luta por audiência, parece condenável. O conhecimento tácito é limitado, quando explicitado não pode servir como argumento para julgamentos, ou se valer do sensacionalismo para arrebanhar adeptos. Todos temos livre harbitrio para escolhermos nosso caminho, por que não escolher o das índias? Além de estarmos todos lá em casa adorando a novela, nos veio a curiosidade em conhecer mais daquele país e daquela cultura, nossa curiosidade ficou mais aguçada com a postagem do Sr. Edir. Assim funcionam as coisas na Nova Era em que vivemos. Como declamou o poeta Paulo Leminski: "Prazer da pura percepção, sejam os sentidos a crítica da razão.".

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