Era uma noite silenciosa, dessas que parecem guardar um segredo antigo no ar. Eu, médium de coração inquieto, sentei-me à mesa com papel e caneta em mãos, pronto para acolher as mensagens que, vez ou outra, os Espíritos de luz me traziam. Naquela ocasião, um perfume suave invadiu o ambiente, e senti que não estava só. Uma presença radiante, serena e acolhedora, aproximou-se. Era alguém que, embora não pudesse ver com os olhos da carne, senti com os olhos da alma. Então, as palavras começaram a fluir como um rio calmo.
"Filho, aproxima-se o Natal. Um tempo que, na Terra, deveria ser repleto de luz, mas que muitas vezes se perde em brilhos que não iluminam. Não permitas que essa celebração seja apenas troca de presentes ou mesa farta. O verdadeiro Natal é a oportunidade sublime de recordar o Mestre e, mais que isso, vivê-Lo.
Lembra-te de que Jesus não nasceu em um palácio, mas em uma manjedoura humilde, cercado pelo amor simples de Maria e José. Ali, entre o canto dos anjos e o silêncio dos campos, o Amor fez-se carne para nos ensinar a essência da vida: amar e servir.
Por isso, meu amigo, faz do Natal mais que um dia. Torna-o um estado de espírito. Convida o Cristo a nascer em teu coração, transformando-o em abrigo para os que sofrem e em consolo para os que choram. Amplia tua comunhão com os outros, mesmo aqueles que julgas distantes ou diferentes, porque a fraternidade verdadeira não exclui ninguém.
Jesus acredita em nós. Deposita em cada alma uma fé inquebrantável, como quem planta uma semente e confia no tempo para fazê-la brotar. E Ele nos chama, especialmente neste tempo, a responder a essa confiança com ações: abraçar, compreender, perdoar. Pois o Natal, filho, não é apenas um marco no calendário, mas a chance de renovarmos a alma e o mundo pelas bases do Amor, da Solidariedade e do Trabalho.
Ao erguer a prece na noite de Natal, lembra-te dos filhos da tristeza, mergulhados na aflição. Muitos, de rua em rua, buscam o abrigo de um coração disposto a ouvir, a acolher, a cuidar. E enquanto a mesa se enfeita e o bolo se corta, que tua lembrança leve o bálsamo da bondade àqueles que ainda esperam. Pois o Mestre, ainda hoje, caminha entre nós, procurando pelas manjedouras de corações dispostos a acolhê-Lo.
O Senhor não nos pede perfeição. Ele nos pede amor. Não um amor vaidoso, que busca retorno ou aplauso, mas o amor genuíno que se dá sem reservas, que ama por amar. Pois, somente quando nos tornarmos verdadeiros irmãos uns dos outros, é que viveremos plenamente o Natal eterno que Jesus nos oferece.
Assim, meu amigo, diante da luz desse Santo Natal, faz tua prece. Pede ao Mestre que te sustente e ilumine tua senda, não apenas nesse dia, mas em todos os outros. E que, em cada gesto de solidariedade, em cada sorriso compartilhado, em cada mão estendida, possamos ouvir, ao longe, o cântico celestial: 'Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens.' Que assim seja.
Quando a mensagem terminou, senti meu coração inundado de uma paz indescritível. Compreendi, ali, que o Natal não é uma data, mas um chamado. E que, em cada pequena ação, podemos responder a esse chamado, transformando a vida — nossa e dos outros — em um incessante e divino Natal.
Ronald Sanson S. J., dezembro de 2024.
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