O ensinamento budista sobre o movimento inconstante da mente condicionada – seus altos e baixos de apegos e aversões traduzidos em pensamentos, palavras e atos egoístas – é frequentemente comparado a ondas em um oceano...
Essa brilhante metáfora é muito mais significativa do que podemos perceber.
"Poucas pessoas sabem que o fenômeno das ondas constantes que surgem a beira-mar ocorre (em geral) por pura transferência da energia dos ventos, absorvida pela superfície fluida do oceano.
O volume das suas águas, na verdade, nunca se movimenta com as ondas; é apenas a energia que navega as vastas distancias, transferindo seu movimento de um ponto a outro por meio da física dos fluidos até despejar sua força acumulada contra a barreira da costa terrestre.
Quando belas ondas se quebram na praia, elas não se compõem de volumes de água que viajaram centenas ou milhares de quilômetros para morrer ali. O que estoura em força nas areias é a energia em movimento que atinge a porção de água já próxima da terra.
Da mesma forma, as ondulações de emoções na mente -- estes altos e baixos de expectativas, lembranças e anseios que nos tornam tão insatisfeitos -- são apenas o resultado do acúmulo de ondas de energia criadas pelas paixões egoístas a explodir em frustração nas margens da consciência, à medida que inexoravelmente se chocam com as realidades relativas da existência.
É a mente condicionada – a energia tensionada de um "eu" encouraçado – que se move. A mente verdadeira permanece una. Toda inconstância em nossas mentes, portanto, não passa de uma ilusão de concretude dos nossos problemas.
Não é o mundo que nos frustra; é a nossa mente obscurecida que se deixa enganar.
Este jorro de energia distorcida pode ser feito de muitas coisas: ciúmes, medos, rancores, vaidades, orgulhos, e tantos mais. Todos são frutos dos três venenos da mente: o ódio, a delusão e a avidez.
Como a água do oceano, a natureza essencial de nossa mente não se perturba pelas distorções em sua superfície. Ela está além da mera identidade pessoal, é incondicional e plena. Ela permanece constante, una, serena.
Quando deixamos de criar a energia da ignorância egoísta em nossa consciência, as ondas de insatisfação não terão mais condições de nos levar de roldão através do teatro humano de ilusões e desesperos.
Não se esqueça deste belo ensinamento: como as ondas do oceano são pura energia dos ventos, as ondas de nossa mente são mera energia do egoísmo.
Pratique meios saudáveis para reconhecer, compreender, transformar e curar as raízes das suas ignorâncias.
A paz não se busca fora de nós mesmos. Ela já se encontra em nossa verdadeira natureza, aguardando para ser redescoberta quando nossa consciência finalmente despertar de seu sono inconstante, e estabelecer a plena harmonia.
Para isso, precisamos dissipar as energias insalubres de nossas mentes. Acalmar o movimento angustiante das ondas de frustração em nossa percepção.
Além das tormentas do desconhecimento de si mesmo, a dádiva da liberdade espera.
Pratique uma vida contemplativa. Aprenda a despertar para a verdadeira substância de sua natureza.
Acalme sua mente, e seja feliz."
Monge Kōmyō, fevereiro de 2015
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