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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Guerra-Fria Parapsicológica





Ainda que seja negado pelos governos e militares, as informações dão conta de que houve, nas décadas de 1950 e 60, uma verdadeira corrida em busca do desenvolvimento de capacidades psíquicas para uso militar.

Ubiratan Schulz

Entre as duas guerras mundiais houve um interesse crescente pelas chamadas ciências paranormais. Assim como ocorria com a população em geral, os militares também procuravam respostas nessas ciências, mesmo numa época de grande avanço tecnológico. Mas bem antes do século 20, lideres políticos já tentavam utilizar, na prática, os estranhos poderes que a mente humana possui.

Um dos primeiros relatos que chegaram a nós está no Velho Testamento, no Livro dos Reis, em que o profeta Eliseu adverte o povo de Israel sobre o avanço das tropas dos arameus (ou assírios), um fato que foi visto não com os olhos, mas com a mente. Assim, consta na Bíblia que, graças às visões de Eliseu, por várias vezes o povo de Israel deixou de sofrer derrotas militares, enquanto o monarca assírio buscava, entre os seus homens, delatores que estivessem passando os segredos militares de seu exército.

Em A Arte da Guerra, tratado escrito por volta de 500 a.C., o general chinês Sun Tzu conta a respeito da torça denominada pelos chineses de tchi, uma espécie de energia vital essencial para o sucesso nas batalhas. Ali, ele ensina o controle do fluxo de tchi através do corpo do guerreiro, que, completando com táticas de guerra convencional, poderia provocar alucinações e fraqueza na mente do inimigo. Um soldado assim treinado conseguiria um perfeito domínio de si próprio e, mesmo no caos de uma batalha, seria capaz de tirar proveito de uma pequena falha do inimigo.

Na Idade Média, reis e governantes também tiveram paranormais a seu serviço para se defenderem de possíveis opositores, mas foi na Segunda Guerra Mundial que o envolvimento de paranormais chegou ao auge, quando as potências em luta empregaram sensitivos para pesquisas, espionagem e outras operações tidas como secretas.

Na década de 60 hove um grande avanço no uso da parapsicologia durante a chamada “guerra fria” entre os Estados Unidos e a União Soviética. A edição de fevereiro de 1960 da revista francesa Science et Vie informava aos seus leitores sobre as últimas novidades no campo da informação militar.

Em 1959, o novo e primeiro submarino nuclear americano, o USS Nautilus, estava em missão sob a camada polar no Ártico, região inacessível até aquele momento, onde transmissões de rádio e detectores não podiam atravessar a grossa camada de gelo. Segundo Gerald Messadié, editor da revista, em momento algum o submarino deixou de receber e enviar mensagens ao território americano, transmitidas por um tenente da Marinha em contato telepático com um marinheiro a milhares de quilômetros de distância.

Quem já teve a oportunidade de ler O Despertar dos Mágicos, escrito por Jacques Bergier e Louis Pauwels, conheceu mais detalhes sobre o episódio do submarino Nautilus. Segundo eles, a experiência teve inicio em 25 de julho de 1959, e durou 16 dias. No laboratório da Westinghouse, em Friendship, Maryland, Estados Unidos, estava o marinheiro, chamado apenas de Smith; a bordo do Nautilus, o receptor era conhecido como tenente Jones. Segundo se diz, duas vezes por dia, em horários previamente combinados, Smith se colocava em frente de uma máquina que embaralhava milhares de cartas, marcadas com um quadrado, uma cruz, uma estrela, um circulo ou linhas onduladas (conhecidas como cartas Zener e utilizadas em experiências de telepatia na Universidade Duke).

Cada vez que se pressionava um botão, o aparelho depositava cinco cartas na mesa, uma por vez, a intervalos regulares de um minuto; eram colocadas em frente de Smith, que era instruído a transmitir o que estava vendo, se concentrando em memorizá-las e também desenhando os símbolos num papel Ao terminar o tempo marcado, os desenhos eram colocados em um envelope lacrado, que por sua vez era trancado em um cofre. Ao mesmo tempo em que ele tentava transmitir telepaticamente os símbolos, a bordo do submarino o tenente Jones procurava captar as imagens na mesma seqüência, desenhando a série em um papel, que também era guardado em envelope lacrado e entregue ao capitão do navio, William Anderson, que os trancava em seu cofre.

Durante todo o tempo, nenhum dos homens tinha contato com outras pessoas, inclusive as que lhes traziam alimentação e que eram proibidas de lhes dirigir a palavra. Ao final da missão, quando os resultados foram comparados e foi feita a tabulação, mais de 70% combinava perfeitamente, e esse resultado está muito acima dos 20% que se pode esperar obter pelo acaso.

Essa experiência foi negada pela Marinha dos Estados Unidos, mas foi amplamente divulgada na Europa. Era uma poderosa capacidade, com uso militar, pronta para ser aplicada em comunicações impossíveis de serem detectadas. Mais tarde, o editor da revista francesa disse ter verificado que tudo não passou de uma farsa, lamentando ter escrito a matéria, mas isso não convenceu os soviéticos de que havia algo no ar, causando grande alvoroço.

Um respeitadíssimo físico soviético, Leonid Vasiliev (1891-1966) catedrático de fisiologia da Universidade de Leningrado, membro da Academia Soviética de Medicina, laureado com o Prémio Lenin, disse que se os americanos estavam realmente realizando essas experiências telepáticas para uso militar, o fato nada tinha de chocante, mas sim teria de ser festejado. Desde a década de 1920 esse cientista soviético estava testando os efeitos das sugestões mentais a distância, bem como a idéia de que a radiação eletromagnética serviria como veículo para a telepatia, idéia descartada em seguida.

Então, seu principal interesse passou a ser a possibilidade de influenciar pensamentos ou atos de outras pessoas por meio da telepatia, e um possível uso militar para isso seria o controle da mente dos inimigos.

Sabemos que os comunistas ortodoxos negam a existência de tudo que possa estar ligado a um mundo espiritual, de modo que o estudo das forças paranormais era terminantemente proibido e considerado contra-revolucionário. Assim, noticias como essa, vindas da América do Norte, traziam esperança para pessoas como Leonid. “É preciso”, disse Vasiliev, “que voltemos a nos dedicar à exploração desse campo vital. [...] A descoberta da energia subjacente à percepção extra-sensorial será equivalente à descoberta da energia atômica”.

Por fim, Vasiliev recebeu a aprovação oficial da Universidade de Leningrado e ganhou a chefia de um laboratório especial de parapsicologia para a pesquisa dos fenômenos telepáticos.

Assim, algumas grandes potências acharam ser vantajoso contratar os serviços de paranormais. Diz-se que o famoso israelense Uri Geller teve uma reunião com funcionários do governo norte-americano, na qual pôde lhes contar o que sabia sobre o desenvolvimento soviético no assunto. Nessa época, Uri Geller estava ganhando muito dinheiro com pesquisas paranormais para a localização de minérios.

Diz-se ainda que estudos secretos da CIA, com nomes codificados como Pássaro Azul, Alcachofra e Mk-Ultra, tinham o objetivo de desenvolver habilidades paranormais confiáveis.

Na Guerra do Vietnã, o corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos se deparou com os túneis e esconderijos usados pelos vietcongues. A partir da orientação do rabdomante Louis Matacia, que também era geólogo, e usando-se um par de fios em forma de “L” tirados de um cabide de roupas, seria possível detectar esses túneis. Em testes retratados no livro A Mão Divinatória (1979), do investigador paranormal Christopher Bird, os resultados foram surpreendentes, e Matacia afirmou aos fuzileiros que qualquer pessoa poderia manejar as varetas, exceto doentes, retardados mentais ou céticos.

No jornal The Observer, publicado para as tropas americanas no Vietnã, surgiu a notícia de que os fuzileiros estavam começando a usar oficialmente as varetas de rabdomancia nos campos de batalha com algum sucesso. Após cinco meses, o programa foi cancelado porque, segundo o comando americano, “exigia habilidades técnicas fora do alcance da média dos fuzileiros”.

No começo da decada de 50, o departamento de estado americano realizava em seus funcionários exercícios que aumentavam a capacidade intuitiva. Memorandos internos, inclusive da CIA, recomendavam que se direcionassem pesquisas “para aplicações confiáveis aos problemas práticos de segurança”.

Mas, certamente, a procura por soluções só foi maior quando os resultados e notícias das pesquisas soviéticas tomaram corpo, resultando numa clássica corrida armamentista, se assim podemos chamar, com cada lado reagindo ao que temia que o outro estivesse fazendo.

Esse processo aumentou ainda mais com a publicação do livro Descobertas Psíquicas Atrás da Cortina de Ferro, em que as jornalistas Sheila Ostrander e Lynn Schroeder afirmavam que, na década de 1960, indícios crescentes indicavam que os soviéticos realizavam pesquisas sobre a paranormalidade; em jornais e conferencias acadêmicas, alguns dos mais importantes homens de ciência do país estavam discutindo as possíveis aplicações da telepatia.

Estudos publicados em 1972 afirmavam que o sucesso dos soviéticos nesse campo permitia à União Soviética conhecer o conteúdo de documentos secretos norte-americanos, a movimentação de tropas, localização de navios e submarinos, moldar o pensamento de líderes civis e militares, e danificar equipamento militar de todo tipo, inclusive o espacial.

Essas noticias fantasiosas e sombrias aparentemente levaram os americanos a continuar as pesquisas, tendo como principal beneficiário o Instituto de Pesquisas Stanford, situado na Califórnia, que recebeu um contrato da Marinha para pesquisa do uso de energia eletromagnética pelos paranormais para localização de submarinos soviéticos em águas profundas.

O resultado nunca foi comentado pela Marinha, e relatos afirmando a contratação de 34 paranormais para trabalhar no projeto jamais foram confirmados.

Outra experiência consistia em possibilitar a comunicação dos astronautas da NASA com o centro espacial. Mas a mais importante acabou se tornando o Projeto Scanate, que consistia em estudar técnicas de visão remota para a CIA.

Dois físicos e importantes pesquisadores do Instituto, Russell Targ e Harold Puthoff, trabalhando no início com o famoso vidente Ingo Swann e o policial aposentado Pat Price, realizaram uma série de testes para verificar a capacidade dos dois na visualização de localidades distantes.

Durante um desses testes monitorados pela CIA, Price fez uma descrição detalhada de uma instalarão secreta militar subterrânea na Virginia. O governo jamais confirmou se as informações estavam corretas, mas segundo relatos houve uma grande investigação, e Samuel Koslov, secretário da Marinha para essa área, declarou que as experiências eram um desperdício de dinheiro do contribuinte, ordenando o cancelamento de todos os contratos com Stanford.

O governo americano continuou negando qualquer interesse nessas questões, mas indícios parecem confirmar o interesse continuo das autoridades pelas armas psíquicas.

Em dezembro de 1980, um artigo publicado no jornal Military Review, do exército americano, falava sobre as implicações estratégicas da instalação do míssil Pershing II na Europa. A matéria também trazia um parágrafo com um título não menos intrigante: O Novo Campo de Batalha Mental: Spock, leve-me para bordo, uma referência ao popular seriado Jornada nas Estrelas.

O coronel John Alexander, autor do artigo, declarava haver sistemas de armas que operavam movidos pelo poder da mente, e cuja capacidade letal já havia sido provada. Também discutia a faculdade de transmitir doenças a distância, e chegou a afirmar ter ocorrido, com sucesso, morte induzida em cobaias como rãs e moscas, mas dizendo não ter sido comprovada a morte em seres humanos.

Na época, isso caiu como uma bomba, e levou a embaixada soviética a emitir uma nota para a imprensa na qual, em geral, enaltecia suas realizações na guerra psíquica.

Com a polêmica, as bases da guerra fria parapsicológica estavam firmemente implantadas. Se o uso dessas capacidades psíquicas fosse uma realidade, seria possível atingir diretamente os comandantes das tropas inimigas, induzindo doenças, confusão e até a morte. Além disso, seria possível modificar telepaticamente o comportamento do inimigo, favorecer comunicações secretas a longa distância, bloquear informações sigilosas e localizar bases secretas inimigas.

Essas informações parecem insuficientes para converter os céticos, mas os sucessos foram registrados com bastante freqüência. Se continuarem a haver tentativas de desenvolver essas capacidades, o governo sempre vai negar qualquer envolvimento, e as pessoas autorizadas vão desmentir quaisquer resultados positivos.

Que cada um tire suas próprias conclusões!

Fonte: Revista Sexto Sentido - número 52 - páginas 20 a 24. Imagem: A paranormal Nina Kulagina (1926 – 1990), em ação. Ela foi uma dona de casa russa conhecida por seus supostos poderes psíquicos, particularmente associados à psicocinese. Pesquisas científicas de seus dons foram conduzidas na URSS pelos últimos vinte anos de sua vida.

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