Ao contrário do que muitos pensam, o Sânscrito não é uma língua morta, e seu estudo e compreensão podem revelar surpresas interessantes.
Tratar sobre sânscrito (originalmente, sanskrito) é algo muito especial. É como trilhar serenamente, em uma calma manhã de sol, uma longa e silenciosa estrada, cercada de florestas verdejantes com frondosas árvores por todos os lados. É como saber e sentir os segredos daqueles bosques, dos seus riachos, das suas flores, dos seus aromas, das suas cores e de toda a poesia da criação divina.
É como voar com os pássaros e as coloridas borboletas, e poder, lá das alturas celestiais, reconhecer cada cachoeira, cada regato, cada recanto mais profundo, e tornar a ver a cor da terra e da água, ainda que muitas vezes cingidas pelo encanto nascente da própria natureza. É como sentir, intuir ou saber que a água cósmica primordial a tudo envolve.
Não é uma tarefa tão simples, não é uma tarefa tão fácil, mas mesmo assim traz alegria, traz paz interior. Resgata o verdadeiro amor e a espiritualidade, tão distantes do angustiado “homem moderno”.
Tratar sobre sânscrito é tratar sobre uma das primeiras línguas adotadas na Terra, senão a primeira. É conhecer suas características todas especiais, que podem exprimir qualquer som, qualquer tipo de fonética através do seu abecedário, composto por 16 vogais – incluindo-se aí dois diferenciais – chamadas ali ou lalanas, e 34 consoantes, chamadas kali ou rasanas, e poder escrever qualquer termo ou palavra de outra língua, viva ou morta.
E, já de início, é muito importante frisar que o sânscrito, embora arquimilenar, é uma língua viva, sendo usada ostensivamente em textos clássicos, na literatura, na arte e na música, em fórmulas e bulas medicinais, em ashrams e templos, em universidades e faculdades da índia, e em órgãos do governo, ao contrário do que lemos publicado equivocadamente em algumas citações esparsas de livros não muito atualizados e que nem mesmo tratam sobre este tema.
Como língua-raiz ou língua-mãe, surge do aperfeiçoamento e fusão do árico e do dravídico, antes mesmo do altaico, do urálio, do kartveliano e do afro-asiático. E, com o passar do tempo, suas normas e regras gramaticais vão se aperfeiçoando cada vez mais, até atingir um apogeu.
O Significado da Palavra Sânscrito, algumas das suas normas e regras
Originalmente, se escreve samskrta, sendo que o prefixo sam (sa + ma) quer dizer “perfeito”; e a raiz verbal kr (k + ka) significa “fazer”; daí o significado de “língua perfeita” ou “linguagem dos deuses”, devabhasa, ou ainda devanagari ou “escrita da cidade divina”.
Em termos etimológicos, pode ser traduzida como “a linguagem refulgente”, e por isso não tem nenhuma analogia com qualquer outra língua antiga ou atual.
No sânscrito, há aproximadamente 2.800 matrizes, raízes, ou chaves, que geram milhões de palavras derivadas, e as mesmas dão o significado da real natureza do objeto expressado.
Em parte, é através deste método que, junto à estrutura gramatical do sânscrito, se pode “construir” qualquer palavra ou, inclusive, criar-se outras novas.
E também, através da junção ou desmembramento de uma determinada palavra, podem surgir significados diferentes, mas simétricos. A precisão do sânscrito advém do fato de que cada som lingüístico é sempre representado por meio de um signo, sinal ou símbolo único e, assim sendo, os signos vogais manifestam sons vogais, e os signos consoantes manifestam sons consoantes. Em certos casos, podem-se também utilizar vogais conjuntas ou consoantes conjuntas.
A raiz verbal é chamada de “semente” (bij), pois dela brotam palavras com muita clareza e facilidade. Esta raiz verbal é caracterizada por uma sílaba solitária, e quando deriva em uma nova palavra, sofre o princípio qualitativo de transformação ou guna.
Há também a possibilidade da formação de palavras compostas, que é um outro caminho gramatical para se criar novas palavras.
A Ordem e a Pronúncia
A ordem do alfabeto sânscrito é profundamente diferente do nosso, em todos os sentidos. E mais, no caso do “gênero”, todas as palavras terminadas em “a” são masculinas, e todas as palavras terminadas em “i” são femininas, sendo muito raro uma exceção a esta regra. Os gêneros são três: masculino, feminino e neutro.
Porém, não há qualquer acentuação no sânscrito.
A pronúncia das vogais é idêntica à pronúncia das posteriores e similares em línguas latinas. Porém, quando uma vogal leva um traço sobre ela, isto lhe confere um forte alongamento na sua pronúncia, sendo assim classificadas em “curtas” e “longas”.
Também é importante esclarecer que os sons consonantais são classificados de acordo com os órgãos empregados na sua articulação, da seguinte forma: a) guturais; b) palatais; c) cerebrais; d) dentais; e) labiais; f) semivogais; g) sibilantes; h) aspirados.
E mesmo estas classificações se subdividem em outras estruturas, separadas distintamente entre as vogais e as consoantes, nas formas suave ou dura ao se pronunciar. A formação de uma frase pode ser simples, composta ou complexa, e as regras de sintaxe normalmente são utilizadas com o objetivo de determinar o que se deseja esclarecer.
Os Verbos Sânscritos
Em relação aos verbos em sânscrito, podemos classificá-los por volta de dez tempos e modos verbais, sendo que são três as pessoas: primeira, segunda e terceira. E cada pessoa se divide em três números: singular, dual e plural. A combinação dos mesmos gera um total de nove formas distintas para cada tempo.
Quanto à voz, podemos classificá-la em: a) ativa ou parasmai padam, aquela que exprime para o (s) outro (s); b) média ou atmane padam, aquela que exprime para si próprio.
Cada raiz verbal pode ser usada nas vozes ativa e média, em cada um dos dez tempos e modos verbais, gerando 180 formas ou princípios verbais distintos para cada raiz. Tais formas são obtidas por meio da adição de terminações verbais, sendo que este processo de derivação verbal é denominado de “conjunção da raiz verbal”.
Nome de Alguns dos Rishis Eruditos em Sabda Nusasana ou Tratados Sânscritos
a) Muito antigos: Panini, Patanjali, Gargya e Yaska.
b) Antigos: Vardhamana, Katyayana, Nagoji Bhatta, Bhartrhari, Jayaditya, Ramachandra, Battoji, Varada Raja, Sarvavarman, Vopadeva, Santanava e Hemachandra.
Breve Agradecimento
Quero humildemente confessar que não foi tão simples escrever esta matéria, mas que me sinto muito honrado por haver escrito a primeira matéria sobre sânscrito que está sendo levada a um grande número de pessoas. Agradeço ao Absoluto por esta oportunidade iluminada, à revista Sexto Sentido por sua atitude pioneira e visão cultural, e agradeço sinceramente a todos os lerem e se inspirarem na mesma.
Espero que este seja um passo inicial para que, a parti de agora, interessados e até estudiosos possam definitivamente buscar informações sérias e sólidas sobre esta língua divina e celestial, e assim descobrirem outras formas de vida, mais harmoniosa, amorosas e, acima de tudo, mais espiritualizadas.
Atenciosamente, na transição da Era de Kali,
Namaste,
Claudio Duarte
Fonte: Revista Sexto Sentido - número 56 - páginas 14 a 16
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