Prefácio do livro 'O Zen e a Experiência Mística', de Alan W. Watts
As palavras espiritual e mística sugerem coisas incomuns, de outro mundo e de uma religiosidade sublime, oposta à vida material corrente, que é, simplesmente, prática e trivial. O propósito principal destes ensaios é mostrar a falácia dessa oposição e a impossibilidade de separar o material do espiritual, o maravilhoso do rotineiro.
Temos, acima de tudo, de nos desembaraçar dos hábitos de falar e pensar separando as duas coisas e impossibilitando-nos de ver que isto – a experiência imediata, cotidiana e presente – é ISSO, a razão total e última para a existência de um Universo...
Não sou um pregador, nem um reformador, pois gosto de escrever e falar sobre essa maneira de ver as coisas do mesmo modo como as pessoas cantam no banheiro ou mergulham no mar. Não há, portanto, de minha parte, nenhuma missão a cumprir nem qualquer veleidade de converter ninguém, mas acredito que, se esse estado de consciência se tornasse mais universal, o pretenso absurdo que passa por negócios sérios deste mundo acabaria numa gargalhada.
Deveríamos enxergar logo que os elevados ideais, pelos quais estamos nos matando e subjugando uns aos outros, são substitutos vazios e abstratos para os milagres despercebidos que nos rodeiam – não apenas os milagres óbvios da Natureza, mas também o fato esmagador e fantástico da simples existência.
Não acredito, nem por um instante, que um despertar como esse nos privasse da disposição e do interesse pela vida em sociedade. Ao contrário, metade do seu encanto – embora o infinito não tenha metade – consiste em reparti-lo com os outros, [...]"
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