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quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Verdadeira Vida Lá Fora (Um insight de Vovô Miguel)

Imagem meramente ilustrativa - Fonte: Library of Congress (U.S.) - Domínio Público


A correria do dia dia, nas tarefas que nos são colocadas pela obrigação, deve ter limites. Não somos máquinas! Hoje pela manhã, quando fui tomar café, tive um insight, que me foi enviado por um bom e pacífico Espírito de um Preto Velho.

Conheça um pouco da história de Vovô Miguel ...


Vovô Miguel, natural da África, teve sua encarnação mais recente na Terra como escravo. Nasceu na África onde foi capturado e trazido a força para servir como escravo no Brasil...

O nome de batismo dele, em sua tribo natal, no Congo, era Omo Zambiapongo, traduzindo 'Filho de Deus'. Um nome simples para uma pessoa simples. Amo vivia feliz em sua tribo e era um jovem guerreiro e caçador. Como a região em que se localizava sua aldeia era pacífica, seus predicados mais utilizados em serviço de sua família e de seu povo era os da arte da caça e da pesca.

Ele também fora iniciado nas artes da magia, pelo pajé de sua tribo, o Babalawô Mizifunfum, que não sei afirmar bem acertadamente qual seria tradução do nome, mas seria lago como 'Meu filho de Deus, guardião do mistério'.

Além de exímio caçador, Miguel gostava muito de ficar com as crianças, tinha um espírito jovem e sua criança interior era bem latente em tudo que fazia e dizia. Omo Zambiapongo carregava com ele a alegria de uma criança como uma sombra que segue uma pessoa caminhando sob o sol. Sempre feliz, bem humorado e prestativo.

Um dia a aldeia em que vivia sofrer assalto de traficantes de escravos. Homens brancos e negros conhecidos como 'mandingas', de origem muçulmana, que ajudavam os brancos (portugueses) a caçar outros negros, destinados à escravidão, em troca de mercadorias como tecidos, espelhos, armas e víveres.

Os traficantes de escravos eram terríveis. Destruiram toda a aldeia, mataram a maioria dos que resistiram, estuprar as mulheres e não pouparam nem as crianças. Verdadeiros espíritos malignos, que buscavam o enriquecimento através da escravidão de todo um um povo.

Omo Zambiapongo foi separado de sua família e passou mais de dois meses acorrentado, sem ver a luz do dia, no porão de um navio negreiro. Mesmo sofrendo tal injustiça, vil e covarde, não deixou que o ódio tomasse conta de sua alma. Omo havia aprendido com o Babalawô Mizifunfum que sentimentos de ira, raiva, ódio, rancor, ressentimento e revolta não ajudam em nada, apenas atraem 'kiumbas', que são Eguns (Espíritos de desencarnados) do mal, trevosos que obsidiam a mente humana podendo até levar a pessoa à loucura.

Chegando ao porto de Salvador, na Bahia, Omo foi vendido como escravo.


Mesmo tento passado mais de dois meses acorrentado ao porão escuro e fétido de um navio negreiro - vendo outros mais fracos, alguns conhecidos, padecerem e ficarem apodrecendo até exalar mal cheiro, quando tinham seus corpos lançados ao mar pelos feitores de escravos - Omo Zambiapongo ainda conseguia manter um sorriso no rosto, da alegria e gratidão aos Orixás (Santos africanos) por estar vivo. Manteve também sua força e musculatura e como que milagrosamente as feridas que carregava no corpo, das valências que sofrera, quando capturado, subjugado e acorrentado, estavam cicatrizadas.

Quando um negro feito escravo chegava ao seu destino, que era a fazenda, engenho, ou qualquer outra atividade para a qual seria designado pelo seu comprador, a primeira coisa que faziam era lhes dar um nome de 'homem branco'. Alguns, como fora o caso de Omo, eram batizados, ao qual ele fora destinado a trabalhar , em regime de escravidão, pelo resto de seus dias na Terra, pertencia a uma família que se achava muito católica, como se católicos de verdade pudessem aprovar tal crueldade, tal qual essa, que era a escravidão.

Foi batizado como Miguel pelo padre que comandava a igrejola do Engenho Sergipe. O nome fora escolhido porque Omo, agora Miguel, enquanto dentro da igrejola não conseguia tirar seus olhos da imagem do Santo Arcanjo Miguel, ao qual se abaixava em reverência e fazia preces em sua língua nativa. O padre o repreendeu, por fazer reverências e orações iorubanas à imagem de um Santo, dentro da Igreja, mas o sorriso de Miguel era tão contagiante, a pureza de sua alma tão perceptível, que o sacerdote se compadeceu e não o castigou, batizando-lhe com o nome de Miguel.

Por sua força Miguel foi encaminhado para trabalhar no engenho, na casa de bagaço, onde juntamente com outros escravos girava a gigantesca pedra de Mó e as engrenagens, que moíam a cana de açúcar. Como ele era trabalhador e prestativo, mesmo escravizado e forçado a muitas horas de trabalho duro, sempre sorria e as vezes era chicoteado apenas por isso, por sorrir, porque os feitores achavam que ele estava zombando deles ao sorrir apenas por manter na face o seu sorriso puro.

O feitor-mor, seu Joaquim, com o passar dos anos se afeiçoou a Miguel, porque percebeu que o sorriso era mesmo puro, como de uma criança em corpo de homem, que não fazia cara feia para o trabalho, mesmo que forçado e levado ao limite de suas forças. Com o tempo Miguel foi envelhecendo, ao passo que ganhava a simpatia de todos. Ao completar cerca de 40 anos lhe colocaram para cuidar de atividades mais brandas, que em sua maioria eram destinadas às mulheres, como ordenhar vacas, colher ovos, cuidar do galinheiro - para que raposas não chegassem perto -, colher flores para enfeitar a casa grande e até caçar. Miguel, apenas com um sorriso no rosto, conquistara a simpatia e o coração de todos.

Já com cerca de 60 e poucos anos foi colocado para cuidar das crianças da senzala, enquanto seus pais trabalhavam e chegou até a cuidar dos filhos dos senhores do engenho, sempre contando histórias ligadas a sua cultura original mas sabiamente transformadas em contos tipicamente portugueses ou abrasileirados. Criativamente dava 'outros nomes aos bois', e assim subliminarmente divulgava sua cultura ancestral, e isso lhe trazia alegria. 

Assim Miguel passou sua vida, e em sua velhice era o mais requisitado para contar histórias e cuidar das crianças, com as quais se divertia igual fosse uma delas, mesmo já estando na faixa de 80 anos de idade. Ninguém nunca soube ao certo sua idade cronológica de fato, mas provavelmente tenha vivido encarnado por mais de 100 anos, porque ele dizia, ao final da vida, ter mais de 100 primaveras.

Voltando ao Insight, a história do açúcar


Toda essa história me veio com emoção e comoção, à mente, quando ao colocar açúcar em meu café deixei uma colher cair sobre o inox da pia e vi o grande valor daqueles grãos de açúcar, que hoje produzidos por máquinas, mas nos tempos da escravidão o açúcar era fabricado com o mão de obra escrava, à base da força dos músculos dos escravos. 

Isto me fez ver a revolução industrial e tecnológica com olhos de liberdade, pois trabalhos braçais pesados, que por milênios foram feitos por seres humanos, nossos irmãos de jornada na Terra que eram lançados cruelmente ao trabalho forçado, apenas por ter outras crenças e outro tom de pele, que não era a predominante, dos colonizadores portugueses; ou cultura diferente daquela tida como dentro do padrão aceitável para a pessoa ser considerada um homem ou mulher livre, membro efetivo da 'sociedade civilizada'.

Vovô Miguel me fez ver todo sofrimento que passou na produção de açúcar e como hoje o processo é todo industrializado; isto junto uma visão  ainda meio assustadora, que vislumbrei dentre os grãos de açúcar que se espalharam, entre eles pude ver quantos ainda vivem em situação análoga à escravidão no trabalho de corte da cana-de-açúcar, mais um processo que vem sendo substituído pelo uso de grande máquinas, entretanto muitos engenhos de cana ainda usam mão de obra humana para o corte da cana.

O sábio Preto velho me fez ver como um produto que adoça pode carregar dor e suor humano em sua produção. Aquele açúcar que usei em meu café da manhã me mostrou e contou muita história, através da visão que tive na conexão com o momento presente e o Espírito de Vovô Miguel. Tanto o açúcar quanto o café tem sua produção, desde o plantio, passando pela colheita e industrialização do produto final feita por máquinas. 

Muita gente critica a mecanização das lavouras, mas fato é que elas contribuem para o fim definitivo da mão de obra escrava no Brasil. Se muitos perdem emprego no plantio e colheita, também muitos ganham na conservação e manutenção do maquinário. Plantadoras, colheitadeiras, aviões e drones de mapeamento e pulverização da lavoura, trabalhadores da agricultura livres, que vivem e são remunerados com dignidade.

Poucos pensam sobre a verdadeira vida lá fora...

Pense como um produto agropecuário é produzido, como funciona e quantos trabalhadores rurais e da indústria estão envolvidos na cadeia de produção de alimentos. Imagine como é hoje a vida nas grandes fazendas.

É muito importante pensarmos e filosofarmos sobre o assunto, para evoluir na produção e consumir alimentos mais saudáveis, não apenas no que tange a produtos usados na lavoura, como fertilizantes e agrotóxicos que podem trazer dano à saúde humana, mas também na mão de obra que envolve a produção, industrialização e distribuição de alimentos. 

O alimento que consumimos carrega a energia da forma como foi produzido, como chegou até nossas casas, desde o plantio até nossa mesa.

Contemplando a natureza podemos ler as páginas de seu magnífico livro. Até em uma simples colher de açúcar, colocada acidentalmente fora da xícara de café, sai um texto como este, que acabo de escrever para você. Vejam que levei pouco mais de uma hora escrevendo, para descrever o que me foi mostrado em apenas um segundo.

Como meu querido vovô Miguel também sou trabalhador, mesmo que sem emprego formal ou carteira assinada. Hoje não recebo nenhum benefício ou tenho renda suficiente para conseguir pagar INSS como autônomo.

Vou fazendo meu trabalho na pedra de Mó que é a Internet, empurrando suas engrenagens, na esperança de ter o trabalho duro aliviado à medida que vou envelhecendo e a dignidade de uma velhice bem amparada; por justiça social e pelo carinho de todos vocês, meu leitores, minhas irmãs e meus irmãos de jornada.

Levo a vida sorrindo, porque se há muita vida lá fora, é porque também há muita vida aqui dentro, e muitas histórias para contar. A verdadeira vida lá fora fora é a verdadeira vida vida que nasce dentro de cada um. Se você busca alguma coisa, tem um objetivo na vida, antes seja feliz. Mantenha sempre viva sua criança interior, sua curiosidade e a simplicidade nas relações humanas.

A vida que vemos acontecer forte na gente, em verdade é a vida que vivemos dentro de nós mesmos, pois tudo tem origem no pensamento. Se o mundo da imaginação é o mundo dos espíritos, talvez seja porque a vida que levamos fora é o mundo que carregamos dentro de nós.

A vida sempre começa de dentro para fora, até um dia crescer tanto e ao. mesmo tempo se tornar tão pequenina diante de Zambi (Deus) que se dissolve na grandeza do cosmo infinito, unindo-se ao todo.

Axé / Ronald

Nota: texto escrito no futuro e postado no passado . . .

O insight que descrevo para vocês, neste pequeno e despretensioso texto, partiu de um devaneio que tive na manhã do dia 4 de maio de 2021, e postei aqui no dia 9 de junho de 2010, porque o documento .pdf que compunha a postagem original, de quase 11 anos atrás, foi apagado do 'Scribd' por seu autor.

De um texto apagado, nasceu um texto vivo, novo, com a história de Omo Zambiapongo. Vovô Miguel, na Terra, e agora na linha de Congo, da Umbanda, a religião nascida no Brasil e carinhosamente propagada no cosmo pelos espíritos dos Pretos e Pretas-Velhos, que se outrora foram escravizados na África, continente mãe de toda a humanidade.

Um apequena história que mostra como a revolução industrial, e amais recente revolução tecnológica, não precisam ser escravizados, porque se o Grande Arquiteto Do Universo nos permitiu criador-las, não é para escravizar e sim para libertar a humanidade da escravidão e da subserviência de uns para com os outros...

Somos todos iguais, todos nascemos e desencarnamos da mesma forma. Nos cabendo apenas o livre-arbítrio sobre o caminho que vamos percorrer e percorremos na Terra, e que determinará a vida que teremos no Astral. Por isso ande sempre no caminho do bem!

Aqui, o que se vê, é a reencarnação do texto, conduzida pelo bom Vovô Miguel de Aruanda, assim evoluímos, aguardando a reencarnação do Verbo de Deus, que trará 1000 anos de muita paz e fartura para toda a humanidade. Com a benção de São Miguel Arcanjo . . . Gratidão Vovô Miguel!


Curitiba, 04 de maio de 2021
(Este e outros contos, textos e poemas fazem parte do livro 'DESPROGRAME-SE')






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