- Artigo de dom José Antônio Peruzzo, arcebispo de Curitiba (PR)
"Hoje em dia quem volta suas atenções para algum noticiário, qualquer noticiário, surpreende-se com o elevado número de manchetes e notícias que informam sobre fatos e/ou situações de violência. As causas se multiplicam e as críticas se enumeram. Mais ainda as explicações. Claro, as análises nunca podem faltar. Sem elas jamais se pode combater as causas da violência. Entretanto, parece que se esqueceu que combater a violência não necessariamente equivale a buscar a paz.
No primeiro caso as atenções se firmam em medidas de segurança, em debates e soluções práticas e pragmáticas, em projetos de programas sociais... Ademais, o temor de ser vítima pede por respostas cujos resultados não podem esperar. E sempre são os “outros” os culpados. Já no segundo caso, o da busca pela paz, supõe uma mudança que começa desde dentro das pessoas. Empenha a participação de todos. Mais do que análises, este caminho pede por experiências de valores testemunhados.
Para um cristão o caminho da busca pela paz faz lembrar uma palavra muito cara no vocabulário da espiritualidade: a conversão para a paz. Para tanto é preciso fazer uma escolha; é necessário tomar a paz como um princípio unificador que inspira, modela e/ou freia as minhas reações. Em termos concretos isso significa que em qualquer situação delicada e complexa, os interlocutores optam por palavras, atitudes e decisões que favoreçam sempre a cultura do encontro, como diz o Papa Francisco.
Infelizmente, é frequente observar que se denomina “diálogo” a simples troca de palavras; ou de adjetiva de “pacífico” o direito de pronunciar palavras ofensivas.
Infelizmente, é frequente observar que se denomina “diálogo” a simples troca de palavras; ou de adjetiva de “pacífico” o direito de pronunciar palavras ofensivas.
Quando Jesus falou de paz com seus discípulos (“Deixo-vos a minha paz”, Jo 14,27), o contexto era de profunda tensão. Com eles o ambiente era de uma refeição, era de paz; até lhes lavara os pés. Mas um o traía. Desde fora os adversários projetavam a violência. Mas Ele, por ser Senhor, nunca quis ser forte sobre ninguém. Não existe paz entre os que escolhem ser inimigos. É preciso rever as opções."
Dom José Antônio Peruzzo
Arcebispo de Curitiba
Fonte: http://www.cnbb.org.br/artigos-dos-bispos-1/dom-jose-antonio-peruzzo-2/16630-paz-um-dom-do-senhor - Imagem: Pixabay (Imagem Gratuita)
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