Divaldo Franco: o homem que falava com a alma e abraçava com o coração
Por Ronald Sanson Stresser Junior
| Divaldo Franco - Reprodução/Internet |
Na noite de 13 de maio, um silêncio diferente tomou conta da Mansão do Caminho, em Salvador. Não era apenas a morte de Divaldo Franco, aos 98 anos, que causava comoção. Era a sensação de que o Brasil perdia um pai amoroso, um amigo constante, um mestre que falava como quem acende luzes por dentro.
Mas quem conheceu Divaldo — pessoalmente ou por suas palavras — sabe: ele não partiu. Apenas voltou para casa.
A infância marcada pela dor, o coração moldado pela fé
Divaldo nasceu em Feira de Santana, interior da Bahia, no ano de 1927. Desde pequeno, experimentou o sofrimento com perdas irreparáveis, como a morte de dois irmãos. Ainda menino, começou a ouvir vozes e a ver espíritos, fenômenos que o isolaram, mas também o empurraram com firmeza para o caminho que transformaria sua vida — e a de milhões de outras pessoas.
Encontrou no espiritismo o colo que tanto buscava. E, mais do que isso, descobriu uma missão: consolar os que choram, guiar os que se perdem, cuidar dos que ninguém mais vê.
“Não podemos evitar que o sofrimento nos alcance, mas podemos escolher como vamos enfrentá-lo.” — gostava de dizer, com aquele sorriso sereno que atravessava qualquer turbulência.
A Mansão do Caminho e o milagre cotidiano do amor
Em 1952, ao lado do inseparável amigo Nilson de Souza Pereira, fundou a Mansão do Caminho. Mais do que uma obra social, tornou-se um lar. Um útero coletivo de afeto, educação e dignidade para milhares de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.
Lá, não se ensinava apenas matemática ou português. Ensinava-se, sobretudo, o valor da bondade, o respeito pela vida, a força do perdão. Divaldo não era apenas o fundador — era o cuidador, o contador de histórias, o abraço de fim de dia.
“Vale a pena amar. O amor é a alma da vida.” — repetia, enquanto acolhia sem distinção quem chegasse.
A palavra que cura e a fé que não impõe
Mais de 260 livros psicografados. Conferências em mais de 70 países. Uma vida a serviço da paz, da espiritualidade e do diálogo. Mesmo nos momentos em que o mundo parecia endurecer, Divaldo se mantinha fiel ao seu compromisso com a ternura. Nunca usou a fé para condenar. Usava-a para libertar.
Ele dizia:
“Se alguém te fere, perdoa. Se alguém te abandona, ora. O outro é sempre o espelho do que ainda precisamos trabalhar em nós.”
Durante o velório, na própria Mansão do Caminho, não houve desespero — mas gratidão. Maria Piedade, voluntária da instituição, chorava sorrindo:
— Ele ensinou a gente a viver por dentro. A amar sem medida. A servir com alegria.
Graça Leal, outra amiga espiritual, lembrou com carinho do passe que recebeu dele, ainda grávida, em 1982, quando médicos diziam que sua filha não sobreviveria:
— Hoje minha filha é uma mulher linda. E viva graças à fé que ele me deu naquele momento.
A luz segue acesa
Fabrício Carpinejar o descreveu como “um poste de luz que jamais se apagará”. E é isso. Divaldo Franco continua. Em cada criança salva pela Mansão. Em cada espírito confortado por suas palavras. Em cada pessoa que, mesmo sem o conhecer pessoalmente, se sentiu amada ao ouvir sua voz.
O Centro Espírita Paulo de Tarso, em Brasília, resumiu com doçura:
— Ele foi um verdadeiro mensageiro de Cristo, em ações e ensinamentos. E esses nunca morrem.
E de fato, não morrem.
Porque como ele mesmo dizia:
“Tudo passa… menos o que construímos com o coração.”
Vai em paz Divaldo!

