O artista plástico Mario Cravo Jr fez este poema em 17 de maio de 1993, para dar de presente ao seu amigo-irmão, o escritor Jorge Amado, um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Hoje estão os dois a gargalhar, junto com outro amigo, irmão, compadre, que os ajudou e inspirou em suas vidas e em muitas de suas obras. LaroYê Exú! É Mujubá!
Exu para Jorge Amado
Não sou preto, branco ou vermelho
Tenho as cores e formas que quiser.
Não sou diabo nem santo, sou Exu!
Estátua de Exu-Elegbara, o 'deus trapaceiro'. Fotografia de uma estátua de Oyo, na Nigéria Circa 1920 |
Mando e desmando,
Traço e risco
Faço e desfaço.
Estou e não vou
Tiro e não dou.
Sou Exu.
Passo e cruzo
Traço, misturo e arrasto o pé
Sou reboliço e alegria
Rodo, tiro e boto,
Jogo e faço fé.
Sou nuvem, vento e poeira
Quando quero, homem, mulher
Sou das praias, e da maré.
Ocupo todos os cantos.
Sou menino, avô, maluco até
Posso ser João, Maria ou José
Sou o ponto do cruzamento.
Durmo acordado e ronco falando
Corro, grito e pulo
Faço filho assobiando
Sou argamassa
De sonho carne e areia.
Sou a gente sem bandeira,
O espeto, meu bastão.
O assento? O vento!
Sou do mundo, nem do campo
Sou do mundo, nem do campo
Nem da cidade,
Não tenho idade.
Recebo e respondo pelas pontas,
Pelos chifres da nação
Sou Exu.
Sou agito, vida, ação
Sou os cornos da lua nova
A barriga da rua cheia!
Quer mais? Não dou,
Não tô mais aqui.
Salvador, 17 de maio de 1993
Mario Cravo Junior
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, contribuição, agradecimento, oração ou pedido: