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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Jesus antes dos 30

Edição293 - julho de 2011

Os anos ocultos de Jesus. O que ele fez antes dos 30 anos?


A Bíblia não conta. Mas a história e a arqueologia têm muito a dizer...

"O Novo Testamento contém 27 livros, 7.956 versículos e 138.020 palavras. E uma única referência à juventude de Jesus. 

O Evangelho de Lucas nos conta que, aos 12 anos, ele viajou com os pais de Nazaré a Jerusalém para celebrar o Pessach, a Páscoa judaica. 

Quando José e Maria retornavam a Nazaré, perceberam que Jesus tinha ficado para trás. Procuraram o garoto durante 3 dias e decidiram voltar ao Templo, onde o encontraram discutindo religião com os sacerdotes. 
"E todos que o ouviam se admiravam com sua inteligência" (Lc 2:42-49)
Isso é tudo. Jesus só volta a aparecer no relato bíblico já adulto, por volta dos 30 anos, ao ser batizado no rio Jordão por João Batista. É quando o conhecemos realmente. Da infância, as Escrituras falam sobre o nascimento em Belém, a fuga com os pais para o Egito - para escapar de uma sentença de morte impetrada por Herodes, rei dos judeus - e a volta para Nazaré. Da vida adulta, o ajuntamento dos apóstolos e a pregação na Galileia, além do julgamento e da morte em Jerusalém. Mas o que aconteceu com Jesus entre os 12 e os 30 anos? Qual foi sua formação, o que moldou seu pensamento nesses 18 "anos ocultos"? Afinal, o que ele fez antes de profetizar na Galileia?

A notícia para quem deseja reconstruir o Jesus histórico é que novas análises dos Evangelhos, documentos históricos e achados arqueológicos nos dão pistas sobre a sociedade da época. E dessa forma podemos chegar mais perto de conhecer o homem de Nazaré. E entender o que passava em sua cabeça.


O pedreiro cheio de irmãos 

Uma coisa é certa. Aos 13 anos, Jesus celebrou o bar mitzvah, ritual que marca a maioridade religiosa do judeu. E é bem provável que ele tenha seguido a profissão de José, seu pai. Carpinteiro? Talvez não. "Em Marcos, o mais antigo dos Evangelhos, Jesus é chamado de tekton, que no grego do século 1 designava um trabalhador do tipo pedreiro, não necessariamente carpinteiro", diz John Dominique Crossan, um dos maiores especialistas sobre o tema. Para o historiador, os autores de Mateus e Lucas, que se basearam em Marcos, parecem ter ficado constrangidos com a baixa formação de Jesus. E deram um jeito de melhorar a coisa. Mateus (13:55) diz que o pai de Jesus é que era tekton. E Lucas omitiu todo o versículo.

As mesmas passagens de Marcos e Mateus informam que Jesus tinha 4 irmãos (Tiago, José, Simão e Judas), além de irmãs (não nomeadas). Mas dá para ir mais longe a partir dessa informação. "Se os nomes dos Evangelhos estão corretos, a família de Jesus era muito orgulhosa da tradição judaica. Seus 4 irmãos tinham nomes de fundadores da nação de Israel", diz a historiadora Paula Fredriksen, da Universidade de Boston. "Seu próprio nome em aramaico, Yeshua, recordava o homem que teria sido o braço direito de Moisés e liderado os israelitas no êxodo do Egito, mais de mil anos antes."

Assim, a família teria pelo menos 9 pessoas, mas nem por isso era pobre. Nazaré ficava a apenas 8 km de Séforis - um grande centro comercial onde o rei Herodes, o Grande, governava a serviço de Roma. Com a morte dele, em 4 a.C., militantes judeus se revoltaram contra a ordem política. Deu errado: o general romano Varus chegou da Síria para reprimir os rebeldes. E seu amigo Gaio completou o serviço, queimando a cidade. "Homens foram mortos, mulheres estupradas e crianças escravizadas", diz Crossan. Mas a destruição de Séforis teve um lado positivo: Herodes Antipas, filho do "o Grande", transformou o lugar num canteiro de obras. Isso trouxe uma certa abundância de empregos para a região. Um pequeno boom econômico. Então o ambiente ao redor da família de Jesus não era de privações. "A reconstrução da cidade deve ter gerado muito trabalho para José", diz Paula Fredriksen.

Jesus nasceu no ano da destruição da cidade, 4 a.C. Ou perto disso. O Evangelho de Mateus diz que Jesus nasceu no tempo de Herodes, o Grande (4 a.C. ou antes). Lucas coloca o nascimento na época do primeiro censo que o Império Romano promoveu na Judeia. E isso aconteceu, segundo as fontes históricas romanas, em 6 a.C. A única certeza, enfim, é que "foi por aí" que Jesus nasceu. E que o ódio contra o que os romanos tinham feito em Séforis permeava o ambiente onde ele viveu. "Não é difícil imaginar que Jesus pensou muito sobre os romanos enquanto crescia", diz Crossan.

Na década de 20 d.C., quando Jesus estava nos seus 20 e poucos anos, o sentimento antirromano cresceu mais ainda. Pôncio Pilatos assumiu o governo da Judéia cometendo o maior pecado que poderia: desdenhar da fé dos judeus no Deus único.

Mas, em vez de se unir contra o romano, os judeus se dividiram em seitas. Os saduceus, por exemplo, eram os mais conservadores. Os fariseus eram abertos a ideias novas, como a ressurreição - quando os justos se ergueriam das tumbas para compartilhar o triunfo final de Deus. Os essênios viviam como se o fim dos tempos já tivesse começado: moravam em comunidades isoladas, que faziam refeições em conjunto seguindo estritas leis de pureza. Já os zelotes defendiam a luta armada contra os romanos.

Em qual dessas seitas Jesus se engajou na juventude? Não há consenso entre os pesquisadores. Para alguns, porém, existem semelhanças entre a dos essênios e o movimento que Jesus fundaria - ambas as comunidades viviam sem bens privados, num regime de pobreza voluntária, e chamavam Deus de "pai". Essa hipótese ganhou força com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947. Eles trouxeram detalhes sobre uma comunidade asceta de Qumran, que viveu no século 1 e estaria associada aos essênios. O achado ar-queológico não provou a ligação entre Jesus e essa seita. Até porque os essênios eram sujeitos reclusos, ao passo que Jesus foi pregar entre as massas da Galileia e Jerusalém.

Jesus podia não ser essênio. Mas, para alguns estudiosos, seu mentor foi.


João, o mestre 

Dois dos 4 Evangelhos começam a falar de João Batista antes de mencionar Jesus. É em Marcos e João. O homem que batizaria Cristo aparece descrito como um profeta que se vestia como um homem das cavernas ("em pelos de camelo") e que vivia abaixo de qualquer linha de pobreza traçável ("comia gafanhotos e mel silvestre").

Para a historiadora britânica Karen Armstrong, outra grande especialista no tema, isso indica que João pode ter sido um essênio. A vocação "de esquerda" que Jesus mostraria mais tarde, inclusive, pode vir da ligação do mestre João com a "sociedade alternativa" dos essênios. "É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus", ele diria mais tarde.

Os Evangelhos não falam de João como mestre de Jesus. Nada disso. Ele apenas reconhece Jesus como o Messias na primeira vez que o vê. Os textos sagrados também informam que ele usava o batismo como expediente para purificar seus seguidores, que deviam confessar seus pecados e fazer votos de uma vida honesta.

Então Jesus aparece pedindo para ser batizado. Na Bíblia, esse é o primeiro momento em que vemos o Messias após aqueles 18 anos de ausência.

Depois de purificado nas águas do rio Jordão, Jesus parte para sua vida de pregação, curas e milagres. A vida que todos conhecem.

Para quem entende esse relato à luz da fé, isso basta. Mas é pouco para quem tenta montar um panorama da vida de Jesus, um retrato puramente histórico de quem, afinal, foi o homem da Galileia que sairia da vida para entrar na Bíblia como o Deus encarnado. E uma possibilidade é que Jesus tenha sido um discípulo de João Batista. Discípulo e sucessor.

As evidências: tal como João Batista, Jesus via o mundo dividido entre forças do bem e do mal. E anunciava que Deus logo interviria para acabar com o sofrimento e inaugurar uma era de bondade. Em suma: tanto um como o outro eram o que os pesquisadores chamam de "profetas apocalípticos". E se os Evangelhos jogam tanta luz sobre João Batista (Lucas fala inclusive sobre o nascimento do profeta, assim como faz com Jesus), a possibilidade de que a relação deles tenha sido mais profunda é real.

O grande momento de João Batista na Bíblia, porém, não é o batismo de Jesus. É a sua própria morte. Morte que abriria as portas para o nosso Yeshua, o Jesus da vida real, começar o que começou.


E Yeshua vira Cristo 

João Batista podia se vestir com pele de animal e se alimentar de gafanhotos. Mas tinha a influência de um grande líder político. Prova disso é que morreu por ordem direta de Antipas. O Herodes júnior tinha violado o 10º mandamento da lei judaica: "Não cobiçarás a mulher do próximo". Não só estava cobiçando como estava de casamento marcado com a ex-mulher do irmão, Felipe. João condenou a atitude do rei publicamente. E acabou executado.

Mateus deixa claro como Jesus, então já com seus 12 discípulos e em plena pregação, recebeu a notícia: "Ouvindo isto, retirou-se dali para um lugar deserto, apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades". Logo na sequência, o Cristo emenda o maior de seus milagres. Sentido com a fome da multidão que ia atrás dele, pegou 5 pães e dois peixes (tudo o que os apóstolos tinham) e foi dividindo. Passava os pedaços aos discípulos, e os discípulos à multidão. "E os que comeram foram quase 5 mil homens, além das mulheres e crianças" (Mateus 14:21). Horas depois, no meio da madrugada, outro milagre de primeiro escalão: Jesus apareceria para os apóstolos andando sobre as águas.

Esses episódios, claro, são parte da vida conhecida de Jesus (ou da mitologia cristã, em termos técnicos). Mas deixam claro: a morte de João foi importante a ponto de ter sido seguida de dois dos grandes episódios da saga de Cristo.

O filho do pedreiro assumiria o vácuo religioso deixado pelo profeta. Agora sim: Yeshua caminharia com as próprias pernas. E começaria a virar Jesus Cristo. "Ele não só assumiu o manto de João, mas alterou sua doutrina. A diferença interessante entre João Batista e Jesus Cristo é que Jesus ergueu o manto caído de Batista e continuou seu programa mudando radicalmente sua visão", diz Crossan.

Ele continua: "João dizia que Deus estava chegando. Mas João foi executado e Deus não veio". Ou seja: para o pesquisador, Jesus teria ficado tão chocado ante a não-intervenção divina que mudou sua visão sobre o que o Reino de Deus significava.

"João Batista havia imaginado uma intervenção unilateral de Deus. Jesus imaginou uma cooperação bilateral: as pessoas deveriam agir em combinação com Deus para que o novo reino chegasse", diz o pesquisador. Ou seja: não adiantaria esperar de braços cruzados. O negócio era fazer o Reino dos Céus aqui e agora. Como? Primeiro, extinguindo a violência. Mas e se alguém me der um soco, senhor? "Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra" (Lucas 6:29). Depois, amando ao próximo como a ti mesmo, ajudando ao pior inimigo se for necessário, como fez o bom samaritano da parábola famosa... Em suma, a essência da doutrina cristã.


A natividade 

Agora, um aparte: chamar de "anos ocultos" apenas a juventude de Jesus é injustiça. O nascimento também é uma incógnita completa. A começar pela data de nascimento: 25 de dezembro era a data em que os romanos celebravam sua festa de solstício de inverno, a noite mais longa do ano. Não porque gostassem de noites sem fim, mas porque ela marcava o começo do fim do inverno. Praticamente todos os povos comemoram esse acontecimento desde o início da civilização - nossas festas de fim de ano, a semana entre o Natal e o Ano-Novo são um reflexo disso. O dia em que Jesus nasceu não consta na Bíblia - foi uma imposição da Igreja 5 séculos depois, para coincidir o nascimento do Messias com a festa que já acontecia mesmo - com troca de presentes e tudo.

"Na verdade, não sabemos nada histórico sobre Jesus antes de sua vida pública, já que os dois primeiros capítulos de Mateus e Lucas [os que relatam o nascimento] são basicamente parábolas, não história", diz Crossan. De acordo com Mateus, José soube num sonho que Maria daria à luz um menino concebido pelo Espírito Santo. Quando Jesus nasce, magos surgem do Oriente e seguem uma estrela que os conduz a Jerusalém. Lá, eles ficam sabendo que o Cristo nasceu em Belém. Seguindo a estrela, os magos chegam à cidade para adorar o menino e lhe regalam com ouro, incenso e mirra. Mas Herodes fica perturbado com o nascimento e manda soldados matarem todos os bebês de até 2 anos em Belém. Assim, José foge com a família para o Egito e depois vai morar em Nazaré, na Galileia, onde Jesus é criado.

"Não há nenhum relato, em qualquer fonte antiga, sobre o rei Herodes massacrar crianças em Belém, ou em seus arredores, ou em qualquer outro lugar. Nenhum outro autor, bíblico ou não, menciona isso", diz o teólogo americano Bart D. Ehrman no livro Quem Foi Jesus? Quem Jesus Não Foi?

No relato de Lucas, o anjo Gabriel vai à casa de Maria, em Nazaré, e lhe avisa que daria à luz um futuro rei. E que o "Filho de Deus" se chamaria Jesus. Maria era uma virgem prometida a José, e o anjo lhe explicou que o filho seria gerado pelo Espírito Santo. Lucas diz que naquela época, "quando Quirino era governador da Síria", um decreto do imperador Augusto obrigou os súditos a se registrar no primeiro censo do Império. Todo mundo devia retornar à cidade de origem para se alistar. Como os ancestrais de José eram de Belém, ele foi com Maria grávida para lá. Jesus nasceu em Belém pouco depois, e foi envolvido em panos na manjedoura. Lá o menino recebeu a visita de pastores e foi circuncidado aos 8 dias, para depois passar a infância em Nazaré.

"Os problemas históricos em Lucas são ainda maiores", diz Ehrman. "Temos registros do reinado de Augusto, e em nenhum deles há referência a um censo para o qual todos teriam de se registrar retornando ao lar dos ancestrais."

Ok, mas afinal por que Mateus e Lucas fazem Jesus nascer em Belém? Bom, de acordo com uma profecia do livro de Miqueias, do Antigo Testamento, o salvador viria de lá. Por que de lá? Porque era a cidade do rei Davi, o mais lendário dos soberanos de Israel.

Depois que o general Pompeu invadiu a Judeia, em 63 a.C., e fez dela província do Império Romano, os profetas passaram a dizer que um rei da linhagem de Davi inauguraria o "reino de Deus". Chamavam essa figura de "o ungido" - já que Davi e outros reis israelitas haviam sido ungidos com óleo. Os Evangelhos foram escritos em grego, o inglês da época. E em grego "ungido" é christos. O Cristo tinha que nascer em Belém. Yeshua provavelmente era de Nazaré mesmo.

Os Evangelhos, por sinal, são obra de autores desconhecidos. É apenas uma convenção dizer que foram escritos por Marcos (secretário do apóstolo Pedro), Mateus (o coletor de impostos), João (o "discípulo amado") e Lucas (o companheiro de viagem de Paulo). Além disso, os escritores não foram testemunhas oculares. "O autor de Marcos escreveu por volta do ano 70. Mateus e Lucas, de 80. E João, no final dos 90", diz Karen Armstrong. E claro: "Eram cristãos. Eles não estavam imunes a distorcer as histórias à luz de suas crenças", diz Ehrman. Afinal, "evangelho" deriva da palavra grega euangélion, que significa "boas novas". O objetivo dos autores não era escrever a biografia de Jesus, e sim propagar a nova fé. Levando isso em conta, chegamos a outra polêmica: os anos considerados como os mais conhecidos da vida de Jesus também são cheios de episódios misteriosos. Vejamos.


Yeshua sai da vida para entrar na Bíblia 

Talvez tenha sido em busca de audiência que Yeshua rumou com os discípulos da Galileia para Jerusalém, por volta do ano 30 d.C. Depois de 3 anos pregando na periferia, já seria hora de atuar no palco principal.

Jerusalém era o pivô do fermento espiritual judaico, e milhares de judeus iam para lá na Páscoa. Os Evangelhos nos dizem que Jesus causou um tumulto no local, destruindo as banquinhas de câmbio (que trocavam moedas estrangeiras dos romeiros por dinheiro local cobrando uma comissão), já que seria uma ofensa praticar o comércio em pleno Templo de Jerusalém, o lugar mais sagrado da Terra para os judeus. Por perturbar a ordem pública, ele foi condenado à cruz. Parece historicamente sólido, mas o episódio central do Novo Testamento também é fonte de reinterpretações.

No julgamento, por exemplo, a multidão teria pedido que Barrabás, um assassino, fosse solto em vez de Jesus - já que era "costume" da Páscoa. Esse costume, porém, não é mencionado em nenhum lugar, exceto nos Evangelhos. Além disso, Jesus pode não ter sido exatamente crucificado, mas "arvorificado". É a teoria (controversa, é verdade) do arqueólogo Joe Zias, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Suas pesquisas indicam que as vítimas dos romanos eram mais comumente crucificadas em árvores, pregando uma tábua de madeira no tronco para prender os braços do condenado. Seja como for, não há por que duvidar de que ele tenha sido executado. Roma usava e abusava do expediente para tentar manter o controle das regiões que conquistava. Segundo Flávio Josefo, historiador judeu do século 1, numa só ocasião 2 mil judeus foram executados

A história de Jesus não acaba aí, claro. "Alguns discípulos estavam convencidos de que ele ressuscitara. E que sua ressurreição anunciava os últimos dias, quando os justos se reergueriam das tumbas", diz Armstrong. Para esses judeus cristãos, Jesus logo retornaria para inaugurar o novo reino. O líder do grupo era Tiago, irmão de Jesus, que tinha boas relações com fariseus e essênios. E o movimento se expandiu. Quando Tiago morreu, em 62, Jerusalém vivia o auge da crise política. Em 66, romanos perseguiram os judeus com medo de uma insurgência. Os zelotes se rebelaram e conseguiram manter as tropas do Império afastadas por 4 anos. Com medo de que a rebelião judaica se espalhasse, Roma esmagou os revoltosos. Em 70, o imperador Vespasiano sitiou Jerusalém, arrasou o Templo e deixou milhares de mortos.

"Não temos ideia de como seria o cristianismo se os romanos não tivessem destruído o Templo", diz Armstrong. "Sua perda reverbera ao longo dos livros que formam o Novo Testamento. Eles foram escritos em resposta à tragédia."

Para os pesquisadores, então, os textos sagrados refletem a realidade da Judeia do final do século 1 - e não a do início, a que Jesus viveu de fato. Por exemplo: Barrabás personificaria os sicários, judeus que saíam armados de punhais para matar romanos na calada da noite, como uma forma de vingança pela destruição do Templo. E que por isso mesmo eram assassinos amados pela população.

Quer dizer: Barrabás seria um personagem típico da década de 70 d.C., inserido no episódio da morte de Jesus, fato que aconteceu na década de 30 d.C, num momento em que o ódio aos romanos e o louvor a quem se dispusesse a matá-los não eram tão violentos.

Até a época em que os Evangelhos foram escritos, o movimento de Jesus era apenas um entre as várias seitas judaicas. Os primeiros cristãos se diziam "o verdadeiro Israel" e não tinham intenção de romper com a corrente principal do judaísmo. Mas tudo mudou com a destruição do Templo.

Ela intensificou a rivalidade entre as facções judaicas. "Em sua ânsia por alcançar o mundo gentio (o dos não-judeus), os autores dos Evangelhos estavam dispostos a absolver os romanos da execução de Jesus e declarar, com estridência crescente, que os judeus deviam carregar a culpa", diz Armstrong. João, o Evangelho mais virulento, declara que os judeus são "filhos do Diabo" (João 8:44). Até o autor de Lucas, que tinha uma visão mais positiva do judaísmo, deixou claro que havia um bom Israel (os seguidores de Jesus) e um Israel mau - os fariseus.

A rixa com os fariseus tem lógica, já que eram competidores diretos dos judeus cristãos. "Num extremo do judaísmo estavam os saduceus, a ala mais conservadora. No outro, os essênios, a mais radical. Já os fariseus e os judeus cristãos estavam no meio. Eles lutavam pela mesma coisa: a liderança do povo, que estava entre as duas pontas", diz Crossan.

Não é surpresa, aliás, que os livros do Novo Testamento contenham tantas contradições entre si. "Quando os editores finais do Novo Testamento juntaram esses textos, no início da Idade Média, não se incomodaram com as discrepâncias. Jesus havia se tornado um fenômeno grande demais nas mentes dos cristãos para ser atado a uma única definição", diz Armstrong. Os Evangelhos atribuídos a Marcos, Lucas, Mateus e João seriam finalmente selecionados para o cânon da Igreja. Dezenas de outros evangelhos ficaram de fora.

Só no século 2, quase 100 anos após a morte de Jesus, começam a aparecer relatos sobre ele no centro do Império. Um deles é uma carta do político romano Plínio ao imperador Trajano. Plínio cita pessoas conhecidas como "cristãs" que veneravam "Cristo como Deus". Outra fonte é o historiador romano Tácito, que menciona os "cristãos (...), conhecidos assim por causa de Cristo (...), executado pelo procurador Pôncio Pilatos". Suetônio, que escreveu pouco depois de Tácito, informa sobre uma perseguição de cristãos, "gente que havia abraçado uma nova e perniciosa superstição". Uma "superstição" cuja mensagem convenceria cada vez mais gente, a ponto de, no século 4, o imperador romano em pessoa (Constantino, no caso) converter-se a ela. E o resto é história. Uma história que chega ao seu segundo milênio. Com 2 bilhões de seguidores."


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O que é quizila?

Quizilas existem? O que é quizila?

Palavra de origem africana (quimbundo), que quer dizer antipatia, mal estar, aborrecimento, segundo o dicionário Michaelis. A palavra também que é muito conhecida e faz parte da linguagem do povo de axé.

Acredito que haja uma linha muito tênue sobre esse tema entre a Umbanda e o Candomblé, porque assim como o uso do branco nas sextas feiras, é oriundo de uma organização primária do candomblé, as quizilas também. Mas diferente do uso do branco e outros preceitos para a sexta feira, dia de Oxalá, as quizilas são oriundas de um conhecimento da própria cultura africana e não foi instaurada pelo grupo organizador do candomblé, pois este faz parte do culto a Orixá desde sua origem africana. O povo africano também respeitava as quizilas do Orixá que prestava culto. O que houve foi apenas uma adaptação, já que muitas folhas, frutos, sementes, etc não existiam na África. 

E muita casa com fortes influencias africanista também adotaram e receberam também o entendimento, embora muitas vezes distorcidos e meramente simbólicos sem muita compreensão sobre o porquê dos interditos, mas adotam também e repassam aos seus filhos de fé. Certos ou errados? Não entrarei nesse mérito de forma alguma, pois não me compete apontar o dedo a casa alheia e dizer que tal preceito é certo ou errado.

As quizilas dizem respeito ao que pode ou não um omorixá (quem cultua Orixá), comer, vestir, formas de comportamento e elementos naturais que são compatíveis ou não com ele. O que pode usar ou não. E isso não é uma questão de supertição, mas de axé. Cada pessoa tem seu campo único de energias orgânicas e inorgânicas, tem sua frequência espiritual e sua porção natural divina dentro de si. 

Uma vez despertado esse axé primordial dentro de nós, através do ritual de iniciação, a energia Orixá que somos, ficam em evidencia e “a flor da pele”. E um axé que foi despertado e que estará conosco de forma mais forte e não adormecida. Somos seres naturais e portanto dependemos da natureza e do que ela provê para sobrevivermos. Porém também somos seres naturais e portanto, existem alimentos, plantas e manipulações naturais e humanas que são incompatíveis com nossa energia natural divina. E o que essa incompatibilidade nos causa seja emocionalmente, fisicamente, ou mentalmente se chama quizila.

Numa linguagem bem simplista e simbólica é costume dizer “não coma isso que seu santo não gosta, não beba isso que vai inquizilar seu santo”. Na verdade não vamos deixar ninguém bravo e revoltado conosco, mas trata-se de estarmos consumindo algo que não é bom para nosso corpo físico e espiritual , pela vibração natural do elemento/alimento que é incompatível com nossa própria energia.  

Já pararam pra pensar que muitos alimentos nos dão mal estar? E pra outras pessoas não? Que algumas pessoas respondem melhor a certos tipos de remédios do que outras, de pessoas que se sentem bem bebendo algum chá ou mesmo banho e outras não? Porque cada ser humano é único e tem seu próprio organismo espiritual que melhor se adéqua a este ou aquele elemento. E as quizilas são justamente o que nos trazem malefícios e não é uma boa pedida pra nosso equilíbrio e bem estar.


Porém as pessoas que levam a coisa ao pé da letra entendem de forma muito humanizada, de que é alguém, nosso Orixá que não gosta de tal coisa e por isso proíbe seus filhos de consumirem. Mas vamos enxergar abrir nossa mente pra ver as coisas mais além do que os simbolismos e alegorias. Da mesma forma é a expressão “ o que meu Orixá come”. 

Orixá não come, nós é quem comemos, compartilhamos á mesa de elementos naturais que sintetizam e são a expressão do Orixá individualizado na natureza; nas folhas, frutos, sementes, grãos, etc. E o homem aprendeu a manipular esse axé em forma de alimento que ingere como remédio, combustível para manter-se vivo, saudável e com vigor em sua vida corpórea. E nos alimentamos todos os dias de axé natural e sem eles não sobrevivemos.

Falando no âmbito da Umbanda, não é via de regra que se respeitem as quizilas dos Orixás, até porque é preciso se entender o Orixá e ter o conhecimento dos elementos incompatíveis ao seu axé natural. Estudando o Orixá, seus mitos que alegoricamente nos trouxe o que é cada Orixá, entendemos sua vibração, onde ele se manifesta na natureza, o que é afim a essa emanação, etc. 

E esse aprofundamento nos mistérios e fundamentos do Orixá não é o bojo que norteia a Umbanda, pois não somos o Culto do Orixá, mas sim, o norte de nossa crença é justamente as entidades. Embora nós prestamos culto aos Orixás, não iniciamos Omorixás, Não é o objetivo despertar através da iniciação e rituais o Orixá porção divina dos adeptos. 

Mas não deixamos de louvar e cultuar dentro de fundamentos próprios as emanações divinas; Orixás, porém de forma, rituais e liturgia diferente do culto ao Orixá, o Candomblé de Orixá. Somos outra religião, uma religião independente e não precisamos copiar, implantar nem importar rituais para nossas casas de Umbanda, até porque os rituais do candomblé que envolve iniciação, não é apenas uma questão de ir e fazer. 

É preciso ter assentos que somente é pertinente a uma casa de nação, organização física apropriada, não misturar dentro de mesmo âmbito os assentos dos Orixás e entidades, etc. Devemos reconhecer que existem dentro da Umbanda muitas casas deverás influenciadas por práticas de nação, e estes, orientam seus filhos sobre as quizilas de seus pais de cabeça. Mas percebo que é algo mais superficial, sem se aprofundar muito nessa questão. 

Interditam algumas coisas básicas e mais evidentes e não estendem a uma profundidade. O que em nada desabona a casa. Afinal somos Umbanda e não Candomblé. E acredito sempre que devemos respeitar o entendimento alheio com relação à forma que pratica e repassa o que aprendeu.

Ana Araujo


Texto pertence ao acervo do Terreiro de Umbanda Vovó Catarina e está protegido seus direitos autorais.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

ÒGÚN, O DESBRAVADOR


O ímpeto, o impulso realizador, a coragem de empreender, o rompante da guerra. Eis a presença de Ògún!

Ògún é o ferreiro: o que constrói as armas para guerra e as usa na contenda com habilidade. Impetuoso, age por rompantes. Não adia a guerra, não teme o inimigo.

Desbravador, amplia os horizontes e não se acomoda. Inventa a técnica da forja, transforma o minério em ferro, faz a liga, faz a guerra, desenvolve a tecnologia.

Além da arma, Ògún também faz a ferramenta da agricultura. A pá, a enxada, a foice, o ancinho... Os instrumentos agrícolas lhe pertencem. É com eles que a agricultura se realiza e com eles a faz prosperar.

Inquieto, além de tudo isso Ògún ainda caça. Foi ele quem ensinou a seu irmão Ọ̀ṣọ́ọ̀sì os segredos do arco e da flexa.

Ògún não pára. Ògún não se cansa. Luta, planta, caça e ama. Ama muito e sem medida.

Ògún nos dá caminho: o caminho do desenvolvimento. Entender Ògún, é compreender que para se obter o que se quer, é preciso lutar.

Saudamos Ògún dizendo: Ògún yè! (“Ògún é vida!”). Salve o ímpeto que nos dá vida! Salve o desbravador que promove o pioneirismo! Salve Ògún! Pàtàkòrí! (“O Importante!”).


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Impeça que te manipulem emocionalmente



COMO IMPEDIR AS PESSOAS DE TE MANIPULAREM EMOCIONALMENTE

Se você está lendo isso agora, provavelmente já tenha sido manipulado por alguém em algum momento de sua vida. Há também uma boa chance de você estar sendo manipulado no momento.

Professores, colegas de trabalho, parceiros de relacionamento, amigos e família são geralmente os que acabam manipulando-nos porque sentimos que podemos confiar neles. E por isso nos abrimos à persuasão, manipulação, e somos abusados emocionalmente.

Se quiser evitar a manipulação, a primeira coisa que tem a fazer é reconhecer que você está, de fato, sendo manipulado. Isso exige auto-honestidade e vontade de admitir para si mesmo que está sendo aproveitado. Depois de reconhecer o problema, você pode começar a corrigi-lo. Aqui estão três maneiras de evitar ser manipulado, você pode usá-las se suspeitar que alguém está te manipulando:

1. Não tenha medo de dizer “não” ou ser egoísta

Algo que aprendi recentemente é como amar-me o suficiente para dizer “não”. Não apenas “não”, mas “não mesmo” e “absolutamente não”. Quando você adquire o hábito de agradar a todos porque acha que é ótimo fazer outras pessoas felizes a todo custo, você nega a si mesmo sua própria felicidade. Quando você faz isso, adota uma vibração suscetível à manipulação.

Ser energicamente predisposto a dizer “sim” o tempo todo, na verdade, lhe abre para ser manipulado. Você está energicamente consentindo em atrair um manipulador em sua vida, pois sua vibração já está alinhada com abnegação e baixa autoestima. Você atrai o que precisa para evoluir, e se tiver muito medo de dizer “não” ou não der-se permissão para ser egoísta de vez em quando, vai exalar fraqueza.

2. Fale

Falar abertamente é uma ótima maneira de parar um desequilíbrio energético de continuar a desenvolver ou perpetuar. Coloque o pé no chão, e fale com confiança. Diga algo como: “Tenho a sensação de que você está tentando me manipular por algum motivo. Por que?” ou “Quais são suas intenções ao fazer / dizer isso? “.

Se você tem certeza de que alguém em sua vida está te manipulando, diga-lhe isso. O que você tem a perder?

Lembre-se de fazer a sua energia coincidir com o resultado que deseja alcançar. Se você enfrentá-los com fraqueza e baixa autoconfiança, estará concordando com energia de ser manipulado.

3. Faça uma leitura sobre ele

É muito mais difícil ser emocionalmente manipulado por alguém, quando você sabe quais são  suas verdadeiras intenções. Se você quiser saber quais as intenções de alguém, esqueça as palavras que estão usando. Estima-se que apenas 7% da comunicação seja realmente verbal. Aqui estão algumas outras coisas para buscar ao tentar fazer uma leitura de alguém:

1. Preste atenção a sua linguagem corporal. Está tensa, ou usando gestos com as mãos para tentar enganá-lo?

2. Assista seus olhos. Estão tendo problemas para fazer contato visual?

3. Ouça a sua voz. Estão nervosas, enérgicos, ou usando um tom para tentar apaziguar a situação?

4. Preste atenção a sua energia. Estão tentando dominá-lo energeticamente?

5. Confie na sua intuição. Você sente algo errado em seu coração?

Uma vez que você treinar-se para ser energeticamente sensível, em sintonia com a sua intuição, e desenvolver a habilidade de ser capaz de ler as intenções das pessoas através da comunicação não-verbal, será literalmente impossível te manipular. Você só pode ser manipulado se for enganado. Não importa o quanto você seja próximo de alguém, ou o quanto os ama, ninguém é incapaz de te manipular.

A melhor coisa que você pode fazer é amar a si mesmo o suficiente para não permitir ser enganado, fale quando sentir seu coração lhe dizendo que algo está errado, e esteja presente o suficiente para sair de si mesmo e fazer uma leitura sobre a outra pessoa. E lembre-se, o universo responde à sua vibração dominante. Ele lhe enviará experiências que correspondem a sua vibração.

Fonte: Spirit Science - Traduzido pela equipe de O Segredo


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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Pomba-Gira na visão de Chico Xavier



Certa vez Chico Xavier foi questionado sobre o que ele achava de espíritos que fumam, tomam cachaça, champanhe, etc. 


Chico respondeu que tinha o maior respeito por esses espíritos e que eles eram extremamente necessários. Deu exemplo das Pombas Gira que para muitos podem parecer espíritos tenebrosos. 

Segundo ele, as mães de filhos que cometeram suicídio ao desencarnarem ficam desesperadas à procura de seus filhos. 

Mas eles se encontram numa região de difícil acesso, chamada VALE DOS SUICÍDAS, e sob o comando de espíritos que não permitem que outros lá entrem. 

Segundo Chico, as Pomba Giras são os únicos espíritos que conseguem transitar por esse local sem nenhum tipo de impedimento e elas, uma vez por ano promovem o encontro desses filhos suicidas com suas mães desencarnadas.

Tinha compartilhado no YouTube o vídeo em que Chico falava sobre o assunto, mas foi deletado e por isso retirado da postagem. Abaixo o programa "Pinga Fogo", com Chico Xavier, exibido na Tupi em 28 de julho de 1971, na íntegra.